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    Crítica | Aftersun

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    Umas das maiores forças que o cinema pode proporcionar é a memória, as lembranças são geradas justamente dessa condição. Navegar pelo passado é algo tanto lindo quanto delicado, ainda mais levando em conta a perda recente ou algum sentimento de não ter aproveitado ao máximo daquele momento/pessoa. É isso que Aftersun busca retratar, nos mostrar simples férias na Turquia entre um pai e uma filha em meio conflitos, conexões e uma jornada totalmente amorosa.

    Sophie (Celia Rowlson-Hall) reflete sobre a alegria compartilhada e a melancolia de um feriado que passou com seu pai vinte anos atrás, quando ainda era criança (Frankie Corio), viajando para a Turquia. Memórias reais e imaginárias preenchem as lacunas enquanto ela tenta reconciliar o pai que conviveu com as verdades sobre o homem que não conhecia totalmente.

    No longa de estreia de Charlotte Wells, a diretora busca esse compilado de momentos e sentimentos entre esses dois personagens, uma verdadeira redescoberta do que cada um pensa e sente um com o outro. Revelado em seu início, o pai, não é casado ou possui relacionamento instável com a mãe de Sophie, mas mantém contato quanto cuidar, sair para passear e afins. Isso remete também o quão jovem o pai teve sua filha, beirando os 19/20 anos, processo bastante difícil de amadurecimento tanto quanto pessoa, mas também em se tornar a melhor figura possível. De maneira delicada o filme passa aquele aprendizado dualizado, enquanto existem inúmeras descobertas e questões importantes que Sophie precisa saber, seu pai também precisa ajustar rumos em sua vida e ainda passar ensinamentos e aprender mais sobre sua própria filha.

    É algo muito íntimo retratado aqui, e precisamos junto com os personagens entender esse reajuste de laços. O amor obviamente existe ali, mas o longa deixa claro a nova etapa que a Sophie está entrando(adolescência) e suas descobertas de interesse amoroso, novas curiosidades, etc. E também existe o lado do pai, com claramente problemas internos, conflitos da vida cotidiana, desde financeiro e quanto a escolha de rumo, e seu maior desafio é não passar essa angústia nessa pequena e importante jornada com sua filha. E claro que isso irá acontecer, os momentos de luta interna ou descarrego do personagem são incríveis, uma verdadeiro show de enquadramento e atuação.

    Em Aftersun, observamos uma inocente viagem de férias em um resort, algo que praticamente todo mundo já realizou, seja com família, amigos, namorado, etc. O segredo aqui está nos detalhes, desde a troca de interações, as conversas sobre descobertas, dúvidas e medos. São coisas totalmente naturais durante o filme inteiro, até mesmo o momento de conflito não passa nenhum sentimento de forçado. Temos aqui um Coming of Age entrelaçado com a trama, mostrando essa Sophie tendo novos olhares, novos questionamentos sobre a vida, percebendo detalhes antes não vistos. Isso é comicamente retratado em frases como: “Nossa, isso aconteceu há muito tempo, sei lá, quando eu tinha uns 7 anos”, algo inevitavelmente fofo e que apenas uma criança poderia transmitir sentimento tão puro, brincadeiras com a “velhice” do pai, o sentimento infantil que o pai consegue igualar com sua família, tudo isso torna o mais real possível o retrato do filme.

    Além do texto e direção, que conseguem transmitir sentimentos e formas de aumentar momentos simples, porém com um grau de importância gigante entre esses dois personagens, temos o talento e química avassalador entre os dois atores. Sophie criança é vivida por Frankie Corio, o mais novo talento mirim do cinema, um verdadeiro show de carisma e carinho. A personagem passa pelo primeiro amor, dúvidas, palavras não ditas, tudo isso para representar seu amadurecimento e passagem para adolescência. Enquanto isso, Paul Mescal é um gênio na arte de pai novo e totalmente apaixonado por sua filha, você enxerga no personagem toda sua luta interna e externa na jornada, seu foco em trazer aquele verão perfeito para sua filha, mas sabendo das dificuldades que os cercam, tanto em sentimento quanto financeiro. Um show de carisma e talento entre esses dois, momentos incontáveis onde esquecemos que são apenas atores em um filme de 1h40, além disso o longa passa de uma maneira bastante rápida, basicamente como uma rápida lembrança, sensação passada das melhores memórias que guardamos.

    Aftersun é um das grandes surpresas de 2022, é um retrato sobre a importância da lembrança e memória que todos nós possuímos. Mesmo que seus momentos de música ao fundo não combinem tanto com a cena retratada, ele consegue causar um impacto narrativo gigante, muito por causa do texto e a absurda atuação de seus atores. É um filme que merece ser revisto quando possível, tudo aqui é para sentir e se identificar. No final das contas, é uma obra universal.

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    ANÁLISE GERAL
    Nota:
    critica-aftersun Umas das maiores forças que o cinema pode proporcionar é a memória, as lembranças são geradas justamente dessa condição. Navegar pelo passado é algo tanto lindo quanto delicado, ainda mais levando em conta a perda recente ou algum sentimento de não ter aproveitado ao...
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