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    Crítica | Ainda Há Tempo

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    Dirigido, escrito e protagonizado por Viggo Mortensen, Ainda Há Tempo conta a história de John, homem de meia idade que vive em Los Angeles com seu marido e sua filha e precisa receber por uma breve temporada seu pai, Willis, que apresenta problemas de saúde decorrentes da idade e da vida solitária e desregrada que leva em sua fazenda numa pequena cidade do interior.

    Todas as 1h 52 min do filme giram em torno da relação conflituosa entre o protagonista e seu pai, apoiando-se numa montagem que intercala os tempos presente e passado. De um lado, o presente é exposto desde a primeira cena como arena de choque entre os personagens, ainda que com um senso de afetuosidade sempre implícito. De outro, a exploração do passado busca resgatar as raízes dessa relação familiar desgastada, partindo de uma infância romantizada, quase idílica, e passando por uma juventude conturbada.E não há muito mais o que ser dito, honestamente.

    É que Ainda Há Tempo, infelizmente, não faz esforços para ir além do que sua premissa sugere e tampouco é dotado de qualquer visão formal que o torne digno de lembrança. É sintomático, por exemplo, que a fazenda em que o protagonista viveu sua infância e em que seu pai vive até o presente em que se passa o filme, local central para o drama proposto, seja concebida, gráfica e atmosfericamente, de maneira imemorável.

    O filme parece cair no lugar confortável de ser um drama familiar – e há uma grande carga de pessoalidade no projeto, já que Mortensen dedica a obra à história de seus irmãos, o que, todavia, pouco se faz sentir no resultado – que toca em questões socialmente relevantes e se esconde atrás dessa respeitabilidade, por assim dizer, para proceder da maneira mais esquemática possível.

    Tudo aqui soa rasteiramente ilustrativo. A persona reacionária do pai do protagonista, por exemplo, é construída por meio de interpelações machistas, racistas e homofóbicas repetidas a esmo, enquanto seu senso de deslocamento nos meios em que convive é denotado, entre outras coisas, por ele soltar puns em público (sim, isso mesmo). A seu turno, o caráter “progressista” e “antenado” do protagonista é representado por um adesivo da campanha presidencial de Barack Obama colado em sua geladeira, o que, obviamente, leva a um ligeiro diálogo sobre a disputa eleitoral entre o hoje ex-presidente dos EUA e o republicano John McCain. Esse é o nível.

    Essas questões não seriam de grande peso se, no que toca ao seu cerne, ou seja, à exploração do drama familiar com enfoque no protagonista e seu pai, o filme apresentasse algo de imaginativo ou particularmente tocante.

    Acontece que, mesmo aí, Ainda Há Tempo soa apenas repetitivo. A relação dos personagens parece andar em círculos, numa estrutura de “morde e assopra” que quer sempre evidenciar os embates entre eles, mas nunca está disposta a apresentar nuances que possam esgarçar os laços a ponto de correr riscos quanto ao grau de empatia do espectador. Tudo acaba se resolvendo numa sucessão de cenas que apontam num mesmo sentido e vão se acumulando sem qualquer senso de culminância. Até mesmo o momento de embate mais franco entre os personagens é rapidamente resolvido – na mesma cena, literalmente – e tudo volta ao status de conflito podado.

    Para não dizer que não há nenhum grau de inventividade aqui, é justo apontar que o diretor lança mão de alguns (poucos) raccords de movimento e de significado para atrelar o tempo presente ao passado de forma eficaz, conferindo, pontualmente, uma noção de continuidade dramática. Digno de nota, também, o fato de que a última cena apresenta um grau de descompromisso e espontaneidade formal que é estranho ao restante do longa (e muito bem vindo, diga-se).

    No todo, porém, Ainda Há Tempo se apresenta como um grande, engessado, pouco inspirado e nada engraçado episódio de Modern Family, apresentando conflitos geracionais e de costumes sob uma ótica que pode até se pretender progressista ou problematizadora, mas que, dada sua lógica de constante apaziguamento e quase nenhuma propensão ao embate franco, revalida a eficácia, ainda que tortuosa, das relações que retrata e acaba por se revelar apenas inofensiva e, em última instância, conservadora.

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