dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Amarração do Amor

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Vou começar esse texto citando a importância dos streamings na produção e distribuição de títulos nacionais. A indústria brasileira é incrível e tem obras realmente brilhantes que, muitas vezes, são mais reconhecidas em prêmios internacionais do que aqui em nosso país. Mas nos últimos anos temos visto uma grande mudança no comportamento dos espectadores brasileiros, grande parte dessa mudança se dá pela forma como os conteúdos são consumidos, através de serviços de streamings. São comédias românticas, séries de drama e de suspense, documentários e diversas produções que estão na “boca do povo” graças a produção e distribuição das gigantes Netflix, HBO, Globoplay e Prime Video. Uma dessas produções que merece destaque é o filme “Amarração do Amor”.

Bebel (Samya Pascotto) e Lucas (Bruno Suzano) estão apaixonados e só querem um casamento simples para selar a união e celebrar o amor, mas as diferenças entre suas famílias deixam tudo mais complicado. A família de Bebel é tradicionalmente judaica, enquanto os pais de Lucas são pais de santo em um terreiro de umbanda. O que parece ser a receita para uma galhofa no estilo Zorra Total é, na verdade, uma homenagem à pluralidade cultural das famílias brasileiras.

Apesar de ter o casal Bebel e Lucas como motivadores da história, o protagonismo do filme é todo de Samuel (Ary França), pai de Bebel, e de Regina (Cacau Protásio), mãe de Lucas. Por serem muito devotos às suas crenças, cada um quer que o casamento do filho seja em sua respectiva religião. A Cacau Protásio é um fenômeno da natureza e ficou perfeita como contraponto para o personagem do Ary França. 

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Reprodução: Filme “Amarração do Amor” | Paris Filmes / Divulgação

O mais engraçado do filme são os exageros dos pais e do que eles são capazes de fazer para provar que o seu jeito é o melhor, ignorando completamente o desejo dos filhos. 

O roteiro tem muito cuidado em trabalhar a questão religiosa do filme, houve uma delicadeza muito grande para mostrar que há várias semelhanças quando se trata de fé. 

É muito importante lembrarmos que vivemos em um país com altos índices de intolerância religiosa, principalmente contra religiões de matriz africana como o Candomblé e a Umbanda retratados no filme, então é importante enaltecer uma obra que aborda essas questões tão sérias de uma maneira leve e sensível, através do humor. Inclusive destaco aqui a cena com Myriam (Malu Valle) mãe de Bebel, e Jorge (Maurício de Barros) pai de Lucas, que se emocionam vendo os filhos brincando na praia e rezam pedindo bênçãos para o amor dos jovens.

Reprodução: Filme “Amarração do Amor” | Paris Filmes / Divulgação

Samya e Bruno funcionam muito bem juntos, os atores possuem muita química. Os personagens fogem do estereótipo dos “jovens de hoje em dia” que vemos na maioria das produções. Eles são felizes como são, se aceitam e se respeitam. A base familiar é muito importante para ambos, tão importante que eles chegam a brigar para defender os pais. É tão gostoso acompanhar o relacionamento deles que até senti que eles mereciam mais tempo de tela. 

A diretora Caroline Fioratti conseguiu explorar muito bem o gênero para mostrar a realidade da família brasileira, em situações que todos vão facilmente se identificar, mesmo sem as alegorias religiosas. Os pais criando expectativas sobre os filhos. Os filhos queridinhos, os irmãos bagunceiros. Sentimentos que falam mais alto que a razão. Como o ciúmes muitas vezes é mais forte que a empatia. 

O humor leve de “Amarração do Amor” traz mensagens muito importantes sobre diversidade e respeito. Uma ótima comédia para assistir com a família!

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