dom, 22 dezembro 2024

Crítica | American Symphony

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A apreciação da arte é uma experiência intrínseca à condição humana, permeando todos os aspectos de nossas vidas. Desde o filme que assistimos em uma tarde tranquila até a música que nos acompanha nos momentos mais íntimos, a arte está sempre presente, atuando como uma expressão poderosa de nossas emoções e experiências. No entanto, ao nos aprofundarmos no estudo da arte, nos deparamos com uma variedade de teorias e perspectivas que buscam compreender sua essência e significado. Entre essas teorias, uma em particular tem despertado meu interesse e fascínio. Se você acompanha meus textos, provavelmente já percebeu que estou me referindo à ideia de que a arte está intrinsecamente ligada à nossa essência humana, sendo uma expressão genuína.

Essa teoria da arte sugere que ela está ligada à nossa alma, que somos essencialmente obras de arte em constante processo de criação, e que a expressão artística é uma forma inata de comunicação humana. Essa pespectiva, muitas vezes associada ao existencialismo e ao humanismo, reconhece a profundidade da conexão entre a expressão artística e nossa experiência interior. Sugere que a capacidade de criar e apreciar arte não é apenas uma técnica treinada, mas algo que está enraizado em nossa identidade mais profunda. Ou seja, a arte acaba por ser nossa maior ancestralidade.

Antes do ser humano SER humano, a expressão artística já estava presente – as pinturas rupestres estão aí para provar. É um ponto antigo e enraizado em nossa própria natureza; vivemos para ela ou, como gosto de dizer, somos arte. Alguns conseguem expor essa natureza pintando, escrevendo, compondo, criando, enquanto outros focam na conexão experimental. Portanto, mesmo que você não seja um artista no sentido de produzi-la, você já teve uma experiência transformadora com ela. Uma imersão tão profunda que parecia te deslocar do mundo material, levando-te a um mundo novo, metafísico e espiritual.

É sob a perspectiva da interconexão entre arte, humanidade e ancestralidade que o documentário American Symphony se aprofunda. Notavelmente, o filme, indicado ao Oscar de melhor canção original, explora como essa conexão é capaz de unir pessoas, assemelhando-se a um ato de fé. A narrativa destaca a maneira como a arte se comunica em meio às diversas situações vivenciadas por Jon e sua esposa Suleika. É a arte que os une de certa forma, tendo desempenhado um papel fundamental em seu encontro. Mesmo nos momentos mais difíceis de suas vidas, é na presença dela que eles se permitem ser, seja através da música ou da pintura.

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A câmera direciona seu foco diretamente para a ideia meio mítica que a arte pode representar, um olhar que confere à arte um papel onipresente na vida dessas pessoas. É, de fato, um ato de fé, e o filme se empenha em criar essa semântica ao relacioná-la com a fé religiosa de Jon. Portanto, semanticamente falando, arte e fé não são tão diferentes assim. O interessante reside na forma como Matthew Heineman planeja/monta seus planos (decupagem) e brinca com o onírico (ou, pelo menos, com o psicológico). A câmera está sempre muito próxima dos personagens, com uma fotografia tão brilhante que evoca algo de fantástico, até mesmo religioso. Não apenas a fé em Deus, mas também a fé na própria arte que liberta do medo, da ansiedade e das angústias, bem como da vontade de manifestar a felicidade.

Embora a direção de Matthew Heineman possa às vezes recair a uma “genericidade”, seguindo os padrões típicos dos documentários da indústria norte-americana, American Symphony possui uma força singular, advinda dos relatos humanos de Jon e Suleika Batiste. Eles se são como uma força da natureza que se sobrepõe diante da tela, nos permitindo sentir cada passo de sua jornada. Assim, American Symphony aborda temas de fé, música, amor e arte, enquanto explora, acima de tudo, a noção de conexão. Essa conexão não se limita apenas ao presente, mas também se estende ao passado, abraçando diversas culturas e evocando uma ideia ancestral do significado da existência.

Encerro, portanto, este texto com o discurso de Jon Batiste na premiação do Grammy, um discurso que encapsula a essência do que ele e este documentário transmitem aos espectadores:

“Acredito nisso com todo o meu ser: não há melhor músico, melhor artista, melhor dançarino, melhor ator. As artes criativas são subjetivas e conseguem alcançar as pessoas em momentos cruciais de suas vidas. É como se uma música ou álbum tivessem um radar para encontrar a pessoa no momento em que ela mais precisa. […] Amo música. Tenho tocado desde que era criança. Para mim, vai além do entretenimento; é uma prática espiritual.

Jon Batiste

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: a arte. Sou um apaixonado por escrever, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes e músicas. Minha devoção? O cinema de gênero e o rock/heavy metal, onde me perco e me reencontro a cada nova obra. Aqui, busco ir além da análise, celebrando o impacto que essas expressões têm na nossa percepção e nas nossas emoções. E-mail para contato: [email protected]
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