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    Crítica | Anatomia de uma Queda

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    Uma das coisas mais fascinantes de Anatomia de uma Queda é justamente esse crescimento que o filme propõe com sua narrativa ao deixar cada vez mais distante o questionamento de “ Qual foi a causa da morte do marido?”  e virar uma espécie de aprofundamento em um relacionamento familiar e a constante reencenação de uma tragédia.

     Durante o último ano, Sandra, uma escritora alemã, e Samuel, seu marido francês, viveram juntos com Daniel, o filho de 11 anos do casal, em uma pequena e isolada cidade nos Alpes. Quando Samuel é encontrado morto, a polícia passa a tratar o caso como um suposto homicídio, e Sandra se torna a principal suspeita.

    É um filme que começa de maneira bem curiosa, acompanhamos um dia normal da família. A esposa está com visita, uma estudante realiza uma entrevista com a escritora, mas logo em seguida, o marido liga uma música altíssima assim atrapalhando-as. E já pelo olhar de Sandra, já percebemos que aconteceu alguma coisa de errada entre eles em algum momento anterior.

    Após a morte, o longa vai trabalhar aos poucos essa constante encenação e reencenação sobre possíveis ocorridos da morte. É caracterizado devido essa insistência de descobrir o que de fato aconteceu, representando o sentimento dos personagens e consequentemente o do público. Somos evidenciados com cenas que variam desde um pensamento de algum personagem sobre uma possível causa da morte, até o uso de maquetes com explicações lógicas de uma possível causa. Mas também recursos como áudios e até recriações do dia da morte, exemplo disso é os questionamento com o filho sobre uma possível discussão dos pais minutos antes da eventual morte.

    A narrativa por si só funciona de um modo geral. Por mais que a duração possa soar incômoda para o grande público, a obra pega justamente por esse elemento básico que é a investigação, por mais que exista muito mais ali conforme avançamos no filme. Os inúmeros diálogos(típicos do cinema francês) reforçam essa ideia de dúvida e desafio para o público construir sua visão dos fatos apurados. A história conta com um salto temporal que acaba beirando uma estranheza, pois não existe justificava para pular um ano e no final das contas não parecer que passou um ano.

    A diretora Justine Triet jamais pesa algum lado, e felizmente não é tendenciosa. Isso fica bem claro nas cenas do julgamento, ela vai variando as decisões de enquadramento para nunca parecer estar indicando qual lado o telespectador deve escolher, fica à sua escolha. A cena mais evidente, é a briga do casal mostrada inicialmente em cena, dos dois atores conversando na cozinha até a catártica briga com um corte bruto para aí tribunal e apenas o áudio de tapas e objetos quebrando. É uma escolha acertada ao nem ao menos mostrar quem agrediu quem e colocar mais dúvida e incerteza com seu público (assim como as pessoas ouvindo no tribunal).

    E os momentos de maior empatia do longo se devem justamente por conta das atuações. Enquanto temos Sandra Huller fazendo a protagonista e figura central de uma possível suspeita da morte, observamos também uma mulher cercada de dedos injustos de acusação. A história molda nossa personagem totalmente falha, mas não de uma maneira tendenciosa, e sim, humana. A atriz faz uma baita trabalho ao beirar nessa frieza e cansaço dado tantos acontecimentos e essa dissecação de sua vida pessoal aos olhos de todos. O peso principal do filme fica por conta do filho do casal, a curiosidade, mas acima de tudo, a necessidade do filho em querer descobrir o que de fato aconteceu alia-se com o público e o torna uma figura central e importante do último terço do filme. E ótimos destaques para o promotor, de uma maneira “carrasca” ele exerce seu trabalho com competência. E elogios para o cachorro do filme(chamado na vida real de Messi!) que vira destaque no terço final e apresenta um trabalho formidável de obediência e encenação.

    Anatomia de uma Queda é um baita trabalho construção e constantes desconstruções dos fatos. A diretora aliá sua ideia ao personagem de Daniel com o público ao fazermos ficar inquietos com a procura do que de fato aconteceu, apenas querer saber a verdade. Mas também mostra que isso é o menos relevante dado essa jornada de aprofundamento de relações e problemas familiares. É um incômodo ao testemunhar vidas viradas do avesso. Em tempos onde tudo é explicado, é vigoroso um filme tão aberto e interpretativo, aquele sentimento gostoso de discutir na saída a verdade vista por cada pessoa após o longa.

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