‘Animais Perigosos’ é o 3° longa-metragem do diretor australiano Sean Byrne, conhecido por ‘The Loved Ones’ (2009), mas em atividade com curtas-metragens desde o final dos anos 90. Com orçamento de apenas $2 milhões de dólares, o filme tem no elenco Hassie Harrison, conhecida por papéis em filmes menores na última década, Josh Heuston e Jai Courtney, conhecido por papéis menores em filmes como ‘O Esquadrão Suicida’ (2021) e ‘Divergente’ (2014).
Bruce (interpretado por Jai Courtney), um serial killer obcecado por tubarões, sequestra e mantém Zephyr (interpretada por Hassie Harrison) cativa em seu barco, que agora luta para sobreviver em alto-mar.
Admito que uma produção de suspense como esta ter apenas $2 milhões de dólares como orçamento é um grande obstáculo, ainda mais considerando como o filme se desenvolve e os efeitos especiais práticos que são necessários. Ainda assim, um mérito da produção não necessariamente vai fazer um grande filme. Acredito que ‘Animais Perigosos’ acaba caindo em uma espiral de querer “chocar” o público a todo instante, seja com a estrutura das cenas propriamente ou com informações jogadas durante a narrativa, como se fosse um amontoado de cenas chocantes, mas não houve preocupação necessariamente em desenvolver uma narrativa em si para chegar até essas cenas. A impressão que dá na montagem final é que algumas sequências foram extendidas para alcançar os 90 minutos de rodagem, não tendo uma preocupação maior do diretor em expandir a história para além de um psicopata apaixonado por tubarões que mata vítimas. No primeiro ato até há indícios de que haverá alguma relação maior entre os personagens e os elementos da história, como os tubarões ou com o oceano, podendo abrir várias portas para diferentes estilos de abordagens de filosofias diferentes, mas nenhuma acaba sendo explorada.

Não há, isoladamente, um problema na obra escolher ser essa grande sequência de cenas de personagens sofrendo em alto-mar se a própria não demonstrasse que realmente quer ser algo a mais. Cenas como a da olhada no fundo dos olhos do tubarão que Zephyr dá acabam dando uma pulga atrás da orelha, como se você perguntasse “então tinha algo a mais aqui que não vi?”. No começo do filme, em alguns planos mais contemplativos sobre o mar e diálogos que temos entre Zephyr e Moses, parece que vamos ter alguma relação entre a protagonista e o mar, seja de maneira literal ou filósofica, mas as informações são apenas jogadas em tela e não são mais aproveitadas, assim como a história de fundo que envolve o personagem de Jai Courtney, são apenas fragmentos que são mostrados e falados em tela mas que se perdem na mesma. A atuação de Courtney realmente é muito dedicada, tem uma presença forte na cena, com muita tensão e nos momentos-chave, ainda que o restante do elenco tenha uma perfomance bem abaixo, com pouca emoção necessária até para um simples thriller.
‘Animais Perigosos’ acaba até abrindo algumas portas interessantes, mas não sustenta uma ideia propriamente, se perdendo no seu próprio desejo de querer sempre “algo a mais” em tela, como se cada cena preparasse o público para algo maior que nunca chega. Apesar de ser admirável o que a produção faz com o baixo orçamento, isso não se sustenta artisticamente.