sex, 20 dezembro 2024

Crítica | Anora

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O diretor Sean Baker segue mostrando em sua filmografia que ele sabe lidar muito bem com essa ideia de sobrevivência urbana. Ele constrói esse conto de fadas, que assim como os antigos , é mascarado por leveza para esconder as dificuldades e situações perigosas que é possível encontrar naquela vida. Já na abertura do longa ele faz uma mescla boa entre imagem e som, ao arquitetar uma performance empenhada daquelas meninas acompanhado de câmera lenta e o paraíso que se torna aquele lugar peculiar.

E é um filme que remete até um “Falsa Loura”, clássico moderno de Carlos Reichenbach, nesse fuga da realidade da protagonista, esse conto de fadas que ela se agarra para poder viver algo mágico sem se importar com as consequências. Aqui a diferença é que o cômico de Sean Baker consegue dominar as cenas, ele faz muito bem ao conseguir ridicularizar figuras impostas como chefes de máfia ao se tornarem praticamente subjulgados por uma simples garota.

O longa não inocenta Anora, ele mostra os interesses dela, os defeitos, o seu inicial interesse: o dinheiro. Mas vai criando uma abertura dessa velha história para uma paixão improvável, do príncipe (no caso russo) que a salvou de uma vida baixa e a transformou numa princesa. Mas conforme o filme avança, mesmo que mascarado pela comédia, tudo foi ficando bem claro só desfecho que irá tomar, dessa quebra do conto de fadas. A personagem será humilhada, xingada, desrespeitada constantemente pelo seu modo de vida, e praticamente não veremos ela desmoronar, mas sim a exibição daquela força impressionante dela, batendo de frente com aquelas pessoas, seja de maneira crua ou tal qual o filme, cômico.

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Divulgação

Então vamos acompanhar esse início do relacionamento entre esses dois jovens e depois seguido da desconstrução. Os personagens “vilões” vão adentrar e aos poucos tentar quebrar nossa protagonista. O filme vai ser cercado por diversas cenas envolvendo desde a comédia de rápida sacada, humor físico, situações que vão e voltam. É um humor bem doido e desajustado, que em sua grande maioria funciona, talvez com uma falta de ritmo aqui ou ali, principalmente na cena da casa, onde tem o primeiro encontro deles.

E depois disso é loucura, são os personagens juntos e improváveis em uma busca pra lá de maluca. Vai ser realizado um passeio pela cidade e adentrando desde boates, lojas, etc. E é nessa loucura que nossa protagonista se sobressai, Mikey Madison encarna essa força que sua personagem exerce sobre aquelas pessoas, e mesmo não tendo o poder deles, ela consegue deixar todos eles abaixo dela, seja fisicamente, verbalmente, usando desde chantagens, e acordos. Os coadjuvantes não ficam tão atrás, todos adicionam brilhantemente com essa loucura, seja por essa idiotice dos mesmos, quebrando essa imagem durona da máfia, principalmente russa. Mas também por uma inocência de não baixar o nível, e caso ocorra, será por pura displicência.

O contraste entre a realidade de Anora e Ivan, a diferença de consequência para cada um. Enquanto um apenas está vivendo e aproveitando ao máximo o que a vida tem a oferecer, inclusive se usando de Ani. No outro lado, ela vê uma chance de fuga, de uma escapada ao melhor estilo “Uma Linda Mulher” e se permitindo ser feliz.

Tanto que ao seu final, quando o diretor constrói algo mais melancólico e dramático como um todo. Parece um pouco tarde, porém funciona nessa ideia da protagonista tendo que retomar sua antiga vida e já se chocando com sua quebra de realidade, demonstrando o momento mais sensível da mesma. E é impressionante a comédia criada durante todo o filme, os risos criados por situações tão idiotas e imprevisíveis, mas acima de tudo, nossa protagonista representando uma força inabalável perante aqueles que a humilham durante toda a jornada.

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