Em Anora acompanhamos a jovem Anora, uma trabalhadora do sexo da região do Brooklyn, nos Estados Unidos. Em uma noite aparentemente normal de mais um dia de trabalho a garota descobre que pode ter tirado a sorte grande, uma oportunidade de mudar seu destino: ela acredita ter encontrado o seu verdadeiro amor após se casar impulsivamente com o filho de um oligarca, o herdeiro russo Ivan. Não demora muito para que a notícia se espalhe pela Rússia e logo o seu conto de fadas é ameaçado quando os pais de Ivan entram em cena, desaprovando totalmente o casamento. A história que ambos construíram é ameaçada e os dois decidem em comum acordo por findar o casamento. Mas será que para sempre?
O filme dirigido e escrito por Sean Baker (Projeto Flórida) é um conto de fadas da vida real, onde o diretor usa seu talento para criar uma história frenética, divertida, ácida e tocante sobre relacionamentos. A produção é dividida em atos que apostam suas fichas em gêneros bem definidos. O primeiro ato pega carona na mesma proposta de Uma Linda Mulher, de 1990, e Baker foca sua narrativa no romance. Inicialmente somos apresentados a protagonista, conhecemos a sua personalidade, o seu mundo, vemos as situações que levaram ela a conhecer seu príncipe encantado e o surgimento do romance entre os jovens. De um lado temos: um jovem russo mimado, atrapalhado e cheio de dinheiro e do outro uma jovem que vê ali uma oportunidade de subir na vida. Porém com o tempo a relação cresce e as coisas não parecem ser tão definidas como vimos inicialmente, ou será que são?
A narrativa de Baker é frenética em seus acontecimentos, mas consegue dar tempo para que seus personagens (principais e coadjuvantes) mostrem quem são e possam evoluir durante a jornada de 139 minutos. A partir da descoberta do casamento secreto pelos pais do noivo, a trama começa o seu segundo ato e se torna uma frenética comédia de erros. Tudo visto é delicioso e hilário. A trama se torna imprevisível e deixa o espectador curioso com os desdobramentos escolhidos para essa história. Os diálogos são poderosos e as situações criadas são absurdas, mas muito sagazes. Por fim, o último ato é dedicado ao drama e foca suas atenções nas consequências das situações vividas, sendo doloroso de ver que apesar de todo o bom humor que as situações geram, ali existe uma pessoa de carne e osso, que sente e se ressente com as situações que estamos vendo ela viver.
O elenco é primoroso e a química entre eles é explosiva. Os grandes destaques são Mark Eydelshteyn (The Land of Sasha) que dá vida a um jovem egoísta e sem escrúpulos e Mikey Madison (Pânico 5) que constrói uma personagem repleta de falhas e desejos em uma atuação sem precedentes. Ambos merecem ser indicados ao Oscar 2025 e se houver justiça, eles terão seus talentos reconhecidos por suas atuações nesse filme.
Anora é sem dúvidas, uma obra-prima moderna! Um conto de fadas da vida real que mostra como selvagem, hilária e dolorosa pode ser a vida de alguém que tem o tão conhecido sonho americano. A vida real não é um conto de fadas e essa produção vem para lembrar disso.