qua, 24 setembro 2025

Crítica | Apanhador de Almas

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O filme segue a história de quatro amigas virtuais que decidem se conhecer pessoalmente, pela primeira vez, durante um eclipse solar total. Em busca de explorarem suas habilidades de bruxaria, o quarteto decide encontrar-se com uma bruxa autoproclamada que servirá de mentora do grupo e ajudará as garotas a performarem um ritual para acessarem seus poderes durante o evento astronômico.

O começo parece até promissor com as amigas se reunindo com a expert em uma casa isolada da sociedade, um cenário clichê clássico dos filmes desse gênero. O design do local é bastante sombrio e cumpre a função de estabelecer essa atmosfera mística entre mundos, um resquício de civilidade envolto em magia, infelizmente os acertos do filme começam e terminam na direção de arte e na ambiência. Desde logo fica claro que nenhuma das garotas possuem sequer um fiapo de personalidade, sendo reduzidas a esboços de estereótipos: uma é boazinha, a outra é talentosa, a loira é uma blogueira vazia e a última é inescrupulosa. Esses arquétipos de personagens até poderiam funcionar caso fossem trabalhados de forma criativa e divertida dentro da trama, o que nunca ocorre e só as tornam insuportáveis de acompanhar.

As atuações são todas completamente descompensadas, com cada atriz em uma tonalidade diferente que não harmonizam entre si e, tampouco, funcionam isoladamente. Os tons exagerados escolhidos pela interprete da bruxa matriarca acabam se destacando negativamente, não necessariamente por ser uma performance ruim, mas por não encaixar dentro da proposta mais “realista” do longa.

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A dupla de diretores parece meio perdida nesse sentido, já que os diálogos, os clichês, as atuações, as personagens e os visuais combinariam perfeitamente com um terror trash, porém os realizadores parecem não se orgulhar disso – ou não saber como trabalhar isso – e insistem em um ar de solenidade que deixa tudo parecendo um trem desgovernado.

O que poderia ser um projeto cheio de personalidade, acaba tão sem identidade quanto suas protagonistas. Há uma tentativa tão grande de emular o cinema hollywoodiano que o filme acaba nem parecendo brasileiro. Apesar de ser um terror nacional, não parece conhecer o mínimo da linguagem cinematográfica do próprio país, ao passo que, mesmo sabendo que se tratava de um filme falado em português, por vezes eu me senti assistindo um trabalho de dublagem ruim, já que nada nos remete minimamente à nossa cultura, ao nosso cinema, à nossa maneira de falar e se expressar. É claro que o cinema americano exerce uma influência cultural quase inescapável, mas é preguiçosa a tentativa de emulá-lo integralmente, principalmente quando essa cópia fica só na superfície, sem conseguir capturar a alma – trocadilhos a parte – desse tipo de filme. Assentada a premissa, a trama não sai do lugar, existe um suposto senso de urgência na teoria, que nunca se concretiza na prática e resta ao público acompanhar as meninas andando pela casa, repetindo diversas vezes os mesmos dilemas morais, com os mesmos argumentos, enquanto a bozinha propõe que todos sejam bonzinhos e a amoral propõe soluções moralmente questionáveis – que faziam todo o sentido dentro daquela situação, contudo o filme insiste em condená-la, na tentativa de criar uma “vilã”. Após intermináveis uma hora e meia, os últimos dez minutos se concluem com uma das piores final girls já vistas na história do horror e um plot twist indescritivelmente ruim.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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