seg, 1 julho 2024

Crítica | Aquela Sensação de Que o Tempo de Fazer Algo Passou

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Escrito, dirigido, editado e estrelado por Joanna Arnow, o filme segue o entediante cotidiano de uma mulher ordinária com aproximadamente 30 anos de idade, vivendo na cidade de Nova York. A sua vida desinteressante varia entre ficar a manhã inteira no trabalho, encontrar seus parceiros sexuais durante a noite e, ocasionalmente, passar tempo com seus pais – dos quais ela, aparentemente, se sente desconectada. A protagonista vê sua vida passando diante de seus olhos, enquanto trabalha ou engaja em atividades que lhe oferecem prazeres apenas momentâneos, sem nunca parecer devidamente realizada nem profissionalmente, nem romanticamente e tampouco com sua família. Por outro lado, ela não está propriamente com raiva de nada disso, apenas vivencia suas experiências de forma mecânica.   

Trata-se de uma espécie de coming of age (filmes de emancipação) de jovens adultos, assim como Cha Cha Real Smooth ou Frances Ha, mas ao contrário desses, adota um estilo mais naturalista para retratar, de forma propositalmente entediante, essa realidade – tão comum nessa faixa etária – da maneira mais realista possível. Ou seja, o “tédio” é intencional para refletir o cotidiano da personagem.

Essa abordagem é muito útil para salientar o vazio causado pelas rotinas enfadonhas impostas pelo mundo capitalista e individualista que vivemos. A vida adulta que chega sem concretizar as promessas de sucesso e realização pessoal é representada pelas paredes sem cores, a casa sem decoração, o livro sem imagens, a comida congelada que parece sem gosto, o sexo sem empolgação, nem paixão e o emprego sem glamour contrastam com as expectativas que nutríamos de como seria o futuro. E assim, o filme mostra o peso da passagem impiedosa do tempo enquanto alguém (sobre)vive a monotonia diária.

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Ann acaba se tornando tão sem gosto quanto seu jantar e tão sem cores quanto suas paredes sem porta-retratos – que salientam ainda mais a falta de memórias criadas. Ela é apenas mais um rosto na multidão, sem traços marcantes de personalidade, a ponto de não ser notada pelos seus colegas de trabalho e não causar um impacto na memória de seu parceiro sexual de longa data – que sempre lhe faz as mesmas perguntas.

Todas as buscas da personagem por algum tipo de empolgação, seja nas aulas de yoga ou nos encontros em que pratica BDSM – uma prática sexual que envolve, entre outras coisas, dominação e submissão – com seus “mestres”, também só resultam em mais tédio e são sempre praticadas de forma robotizada e indiferente, colocando-a presa num ciclo vicioso de nada que não leva a lugar nenhum. O filme funciona como um exercício cinematográfico diferente do que estamos acostumados a assistir, com sua uma realidade comum e pouco interessante, sem vilões, mocinhos, plot twists, euforias ou grandiosismos.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
Escrito, dirigido, editado e estrelado por Joanna Arnow, o filme segue o entediante cotidiano de uma mulher ordinária com aproximadamente 30 anos de idade, vivendo na cidade de Nova York. A sua vida desinteressante varia entre ficar a manhã inteira no trabalho, encontrar seus...Crítica | Aquela Sensação de Que o Tempo de Fazer Algo Passou