qui, 19 setembro 2024

Crítica | Armadilha

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O controverso diretor e roteirista M. Night Shyamalan retorna às telonas com mais um longa que já vem dividindo opiniões tanto do público, quanto da crítica especializada. Armadilha conta a história de um pai de família que está acompanhando sua filha adolescente em um show de uma cantora pop no auge de sua carreira e ao chegar lá descobre uma caçada policial em curso, que pode colocá-lo em perigo.  

O diretor que se popularizou por seus plot twists, dessa vez começa seu jogo de gato e rato com todas as cartas na mesa, comunicando desde logo ao público, de maneira inequívoca, quem são os “mocinhos” e quem é a persona perigosa que está sendo procurada. Shyamalan abre mão de uma grande surpresa a ser revelada no final, para focar em micro reviravoltas a cada guinada do enredo. Sem mistérios a serem desvendados, o diretor prende a curiosidade de seu espectador através de situações de tensão criadas para serem superadas de forma inventiva pelo protagonista, deixando um constante sentimento inquietante de ameaça no ar, de que tudo pode dar errado a qualquer momento.

O ambiente do show também é utilizado para escalonar essa sensação de risco ao encurralar um serial killer em um estádio com as saídas bloqueadas junto a milhares de fãs adolescentes e seus familiares, alheios ao perigo em que se encontram. É preciso escapar daquele lugar impenetrável, mas é necessário fazer isso de forma soturna, sem atrair atenção demasiada, nem criar pânicos ou levantar suspeitas. Bastando apenas um deslize para que tudo desmorone.

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Shyamalan aproveita a oportunidade para se divertir ao máximo com seu filme mais engraçado até então, através de ocorrências absurdistas e intencionalmente cômicas de tão inverossímeis. O humor também se reflete na atuação propositalmente exagerada de Josh Hartnett, enquanto esconde seu pânico interno e nos diálogos não naturalistas.       

Existe uma inspiração clara nos thrillers de Brian de Palma, não só pela ideia de perseguição em si, mas também em relação ao visual do filme, desde a forma como é iluminado até o uso de split diopter – uma lente convexa colocada na frente da câmera que permite que o fundo fique em foco junto com o primeiro plano. Não é de hoje que Shyamalan é conhecido por sua expertise em pensar na imagem, ao contrário do que pode parecer pelo senso comum, seus filmes vão muito além dos famosos plot twists, o grande trunfo do cineasta está na forma que ele compõe seus planos. E Armadilha não é uma exceção, toda fotografia do filme, além de ser esteticamente bonita, ainda desempenha um papel narrativo reforçando através de ângulos e cores o desespero de estar sem saída.

É até curioso que mesmo com um visual tão comunicativo, o diretor tome a infeliz decisão de apelar para explicações longas e expositivas ao final. Ao escapar do confinamento do concerto, o filme começa a gradualmente perder suas forças, desperdiçando a boa proposta que havia estabelecido para apostar em uma abordagem um pouco mais realista, abandonando o seu viés mais cômico. Passa a se levar a sério demais, ficando fora do tom dos primeiros dois atos e parece um desfecho destacado do restante da obra. Só não chega a comprometer toda a qualidade, porque antes de terminar em uma nota amarga, a última cena retorna ao lúdico e absurdo e fecha o longa com chave de ouro.       

Há algo de muito singelo – e honesto – nesse filme, na forma em que se diverte consigo mesmo, criando situações absurdas para colocar o personagem em movimento. É o trabalho de um diretor experiente que conhece seus pontos altos e seus calcanhares de Aquiles e está confortável o suficiente para se divertir com eles.   

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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