Muitos dos nossos comportamentos foram, provavelmente, herdados de ancestrais, que viviam num ambiente hostil, onde a lei que imperava era a da sobrevivência. Segundo algumas teorias evolutivas, comportamentos repetitivos, derivados de ações físicas ou psicológicas, levam à manutenção destas ações nas gerações futuras. Não diferente de períodos pré-históricos, a selva criada pelas metrópoles mundiais sempre instigou tal comportamento da sociedade que a forma. Num efeito dominó, inúmeras instituições financeiras, pequenos bancos e toda uma nação se viram à beira do caos, com a queda do Lehman Brothers, importante instituição de investimento estadunidense, num evento conhecido como a Crise Econômica de 2008. É com base nestes eventos que a diretora e roteirista Lorene Scafaria se debruça para contar a história de um grupo de ex-strippers que lesavam financeiramente seus clientes, após dopá-los.
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As Golpistas é uma adaptação de um artigo escrito por Jessica Pressler, em 2015, e conta a história de Destiny (Constance Wu), por sua própria perspectiva, numa entrevista à jornalista Elizabeth (a reaparecida Julia Stiles, de 10 coisas que odeio em você), mostrando os eventos que a levou a ser stripper, na mais badalada casa noturna, até a sua adoção como pupila pela veterana Ramona (Jennifer Lopez), passando pela crise econômica no país, que despertaria nelas os instintos mais primitivos, porém, não menos lógicos.
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Scafaria procurou fazer uma mescla entre tragédia e comédia, de modo que se alternassem, sem que houvesse corte para tal. Mas o gráfico senoidal não se restringe ao tom: em vários momentos, principalmente no primeiro ato, a busca pela aceitação por suas colegas até seu auge, com Ramona, Destiny passa por inúmeras decepções, conquistas e reconquistas. As oscilações narrativas também perduram nos trinta minutos finais, quando as consequências vêm à tona.
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O elenco, escolhido a dedo, conta com a Rapper Cardi B, Lili Reinhart (Riverdale), Keke Palmer (Scream Queens), Madeline Brewer (Cam), que nos presenteia com diferentes personalidades, motivações e atitudes e, embora o roteiro não as tenha explorado tão intensamente, o vínculo familiar criado entre elas já faz com que haja uma preocupação maior por quem assiste. E isto é excelente, visto que se trata basicamente de um elenco de apoio para Wu e Lopez, as divas do longa, que se reinventaram em referências que vão de Striptease (1996) às obras gangster emblemáticas de Scorsese.
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Com um orçamento baixo (20 milhões de dólares), As Golpistas prova que é possível continuar fazendo cinema de qualidade, com bom elenco e direção atenta, tratando de temas saturados, porém, com uma visão bastante diferenciada das demais obras como, por exemplo, A Grande Aposta (2015), de Adam McKay. A imersão no longa é direta e não é de se assustar caso o subconsciente concorde com as falcatruas ali expostas. Afinal, descendemos igualmente e, no final, o instinto de sobrevivência fala mais alto, quando a caça e o caçador invertem seus papéis.