As Linhas da Minha Mão apresenta a atriz Viviane de Cássia Ferreira em uma jornada introspectiva onde a artista desabafa sobre sua experiência com a arte e a loucura, por meio de uma série de encontros insólitos.
Enquanto alguns se esforçam para serem sujeitos normais, outros que vivem na loucura real compartilham, sem medo ou insegurança, palavras e vivências que só os loucos sabem. Parece clichê ou um tanto presunçoso dar início a um texto sobre o longa-metragem As Linhas da Minha Mão, de João Dumans, citando Raul Seixas e Charlie Brown Jr., mas a verdade é que tais versos são inegavelmente compatíveis com a obra orquestrada pelo cineasta mineiro, já que os 3 tratam, com naturalidade, maturidade e respeito, os tipos particulares de loucura.
Longe de temer declarar seus sentimentos, As Linhas da Minha Mão é uma afiada produção que mescla o gênero documentário e o drama de ficção, centrado em poderosos depoimentos da artista Viviane de Cássia Ferreira, atriz da trupe Sapos e Afogados, grupo teatral dedicado à interseção entre criação artística e saúde mental, que, através da exposição de suas dores, transforma uma documental delicada em algo surpreendentemente reconfortante e natural. Grande parte de suas vivências, envolvendo projetos artísticos de dança, sua vida pessoal, o luto após a perda da mãe, a temporada que a artista viveu na Europa, entre outros momentos, são compartilhados com o público por meio da conversa. Por outro lado, a melancolia da personagem central fica evidente do início ao fim, mesmo sob uma generosa camada de arte.
É preciso estar apto para poder encarar a experimental e introspectiva linguagem do documentário. Em As Linhas da Minha Mão há um evidente excesso de informações e depoimentos longos, mostrados a partir de uma única tomada que, ao mesmo tempo que geram o impacto necessário para o longa, também se tornam massivos e até um tanto cansativos. A qualidade sonora em alguns momentos também se tornam um pequeno problema, mas não comprometem a compreensão do que se passa em tela.
Por outro lado, é importante destacar o quão visível é o respeito e sensibilidade de João Dumans ao desenvolver a obra, com o mínimo de orçamento e patrocínios, e atribuir o poder da voz humana sobre condições como transtorno bipolar, ansiedade e depressão. Viviane de Cássia é uma personagem livre, humana, verdadeira, que não esconde o que já passou e procura remediar os males através de saudosas lembranças e do intenso carinho pela sua manifestação artística.
Profundo, reflexivo e verdadeiro, As Linhas da Minha Mão nos permite uma verdadeira jornada sensorial a respeito do ser e seu autoconhecimento.