ter, 5 novembro 2024

Crítica | Assassinos da Lua das Flores

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No que diz respeito à construção da maioria dos personagens em torna na carreira de Martin Scorsese, é muito comum vermos essa passagem entre a ascensão e queda de suas figuras  controversas. Em “Assassinos da Lua das Flores” existe esse ponto de vista dos vilões da história, mas com uma abordagem mais intimista e direta quanto motivações, muito relacionado com sua obra anterior: O Irlandês.

Os assassinatos dados a partir de circunstâncias misteriosas na década de 1920, assolando os membros da tribo Osage, acaba desencadeando uma grande investigação envolvendo o FBI. Acompanhamos a história entre três personagens, William Hale, Ernest BuckHart e Mollie BuckHart.

E uma das coisas mais interessantes desse novo longa do diretor é toda sua abordagem e construção em torno dessa absurda história. Tudo que motiva e liga esses personagens de caráter ruim é o dinheiro, e o filme deixa isso totalmente claro durante toda a narrativa. São situações arquitetadas pelos mesmos que gira em torno dessas riquezas e heranças passadas de personagem em personagem. Situações que acabam beirando até mesmo o cômico devido o absurdo mostrado. Existe uma fala do personagem King Hale(Robert De Niro) que ele explica o porquê manter tão perto um amigo Osage com claríssimos problemas de depressão e beirando tentativas de suicídio. Tudo isso por causa de uma gigante herança que será passada- e até mesmo querendo decidir a hora certa dele morrer. É uma abordagem totalmente direta, o que move esses personagens é a ganância e o dinheiro, não existe um passado trágico, um sonho ou algo do tipo.

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E esse ponto de vista do homem branco é brilhantemente passado por esses dois personagens: Ernest BuckHart e seu tio King Hale. Enquanto Ernest possui um grau de puro cafajeste, um homem  claramente desprovido de independência ou noção que não seja constantemente jogado por seus familiares, principalmente seu tio. Por outro lado temos King, um homem totalmente camuflado naquele ambiente e sabendo exatamente as peças que deve mexer, em alguns momentos fica óbvio o que ele está escondendo, mas poucos conseguem perceber em meio aquele caos e desconfiança.

E com o dever de não glamourizar esse ponto de vista da história, o público precisa de um contraponto, algo para se solidarizar e construir um vínculo afetivo. E assim surgem os Osages, as principais vítimas de toda esse massacre em torno de seu povo.  Como a figura principal temos Mollie BuckHart(Lily Gladstone) que brilha ao equilibrar o sofrimento que a personagem passa por pelo menos metade do filme- com uma sensação dos acontecimentos trágicos de seu povo caem todos por cima de si, e isso mostrado tanto de forma psicológica quanto física. E ao decorrer da conclusão a personagem cria uma força e necessidade de coragem que falam tanto no olhar quanto em suas decisões totalmente difíceis quanto amigos e familiares. Apesar da obra em alguns momentos passar uma visão inocente do povo Osage, de maneira que certas situações não parecem críveis de acreditar que passou batida em torna dessa onda de desconfiança e massacre, sendo cada vez mais claro quem sãos os culpados e como fizeram.

E semelhante com sua obra anterior, “O Irlandês”, na hora dos confrontos finais, construções de clímax e fechar pontos- o filme brilha. São momentos de angústia e decisões quanto a situação mostrada em torna das mais de três horas de duração, na hora dos inevitáveis conflitos estamos totalmente ligados com aqueles personagens, tanto os vilões quanto os heróis da narrativa. É uma dor compartilhada que dá um peso gigante com esse resgate trágico dessa história norte-americana.

Assassinos da Lua das Flores é um verdadeiro ballet entre todos os recursos cinematográficos que o cinema pode proporcionar. É uma baita história de denúncia com uma história pouco falada, um grande recorte que o telespectador é convidado a observar tanto caos e absurdo em meio essa busca incessante do homem branco pelo poder e dinheiro. É quase impossível não ficar indignado/atônito com tantas mortes e situações criadas em torno de roubar a riqueza do outro ou eliminar possíveis testemunhas dos ocasionais crimes- isso brilhantemente passado na montagem do filme. É uma obra que demonstra o amor de seu realizador com a história contada. Entre os grandes filmes do ano.

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