seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Asteroid City

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Essa fase cinematográfica de Wes Anderson vem contornando diversos traços positivos que são possíveis de absorver em suas obras mais recentes. Em meio tanta mediocridade e conteúdo genérico lançado no cinema atual, o diretor traz um certo “alívio” em sua própria metalinguagem e seu conteúdo extremamente característico, seja nas interpretações ou na forma como eles leva sua história (ou a falta dela?).


Asteroid City decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955. O itinerário de uma convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais (organizada com o objetivo de juntar estudantes e pais de todo o país para uma competição escolar com oferta de bolsas escolares) é espetacularmente perturbado por eventos que mudarão o mundo.


E de forma bem honesta ele deixa claro seu foco- de maneira até arriscada- é justamente essa troca de núcleos, sem um protagonista próprio. Até existem flertes de atenção para algumas figuras do filme, como o escritor da peça ou a família de um pai e quatro filhos que acabam de chegar na cidade, mas nada acaba efetivamente sendo a história sobre aquelas pessoas. É um narrativa que as coisas vão acontecendo e o foco fica mesmo com suas reações, angústias, problemas e etc. É um estilo desafiador que o Anderson traz com sua nova fase da carreira- que muitas vezes pode acabar desgastado com o passar do filme( A Crônica Francesa), mas aqui encaixa bem com a proposta do longa e com essa ideia de ser um arquétipo teatral por toda sua jornada, tanto em direção como na história.

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A construção da peça (o mundo real) é representado pelo preto e branco, enquanto a cidade é justamente o contrário, com cores vivas ao melhor estilo “fake”. Toda essa passagem da cidade é extremamente palpável, o ângulo frontal combina não só com o belíssimo cenário apresentado, mas também com a já mencionada proposta teatral do longa. O artificio proposto pelo diretor em se desafiar acaba funcionando não apenas a história sem uma figura central, mas também em sua própria direção. Existe obviamente os enquadramentos fixos e simétricos, porém ele acaba que movimentando, ou melhor dizendo, manifestando seus enquadramentos de maneira agressiva e brincando com o olhar do telespectador, e isso é evidentemente curioso por conta de suas já conhecidas obsessões e manias audiovisuais.


É praticamente um experimento de seu próprio estilo, ele se homenageia, porém desconstrói elementos já estabelecidos de sua filmografia. É uma auto consciência que não remete algo puramente egocêntrico, mas sim um exercício. Isso fica evidente na parte final onde o “mundo real” e a peça se misturam, os atores daquele universo questionam as ações passadas no texto de seus personagens e existe um entra e sai dessas realidades. O apelos da história quase inexistentes aqui podem ser um problema para os mais acostumados com uma narrativa mais direta e confortável do diretor.


Asteroid City não só é um exercício de imaginação quanto cenário e metalinguagem, mas também para a carreira do diretor. Por mais que tenhamos todas a convenções de atores famosos, muito sarcasmo e aquela engenhosidade das reações e diálogos entre os personagens. Aqui fica claro essa nova fase apresentada em sua filmografia, se distanciando do mais óbvio esperado em seus filmes e trabalhando o método por cima da trama/história, e ainda sim consegue trazer apelo emocional significativo. Fica a curiosidade como isso vai funcionar em projetos futuros.

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