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Início Críticas Crítica | Até Que A Música Pare

    Crítica | Até Que A Música Pare

    A sutil arte de registrar a vivência do luto e como combatê-lo

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    Em Até Que A Música Pare, pepois que o último filho sai de casa, Chiara, matriarca de uma família descendente de italianos, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pela Serra Gaúcha. Uma tartaruga e baralhos de carta colocam à prova mais de 50 anos de vida a dois.

    Uma lenta e curiosa tartaruga entra em cena, pondo uma interessante reflexão no ar a respeito do tempo, dos objetivos, de como há, por nossa parte, lentidão em processos e realizações e em perceber como um pequeno e indefeso réptil pode representar algo maior, como até mesmo um novo corpo para um ente querido falecido. Após essa série de alusões, ainda somos surpreendidos quando a vida nos joga cartas sobre a mesa revelando que a superação para males, como o luto e a desolação, vem a partir de vivências cotidianas. Metáforas como essa constroem a narrativa simples e simbólica de Até Que A Música Pare.

    Imagem: Reprodução

    Ambientado na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, onde se concentra uma extensa comunidade italiana cujo dialeto falado é o Talian, uma mistura de português e italiano que foi herança dos imigrantes de Vênedo, Até Que A Música Pare é um acompanhamento cativante, apesar de lento e, por vezes, melancólico em excesso, de um casal que tem que lidar com a perda de um dos filhos de maneira distinta. O filme se desdobra quando a protagonista Chiara (Cibele Tedesco) descobre, por meio do noivo budista de uma sobrinha, os princípios da filosofia e a crença na reencarnação, o que acaba interferindo no seu afetado relacionamento com o marido, Alfredo (Hugo Lorensatti), com quem passou a acompanhar nas suas viagens como entregador. A química entre o casal é realista e morna entre o casal, que enfrenta um trauma recente que vem à tona de maneira sutil e sensível, fazendo com que o longa, mesmo enfrentando a armadilha do marasmo disfarçado de estudo de personagens, funcione e, de fato, comova.

    Aqui, a cineasta gaúcha Cristiane Oliveira realiza uma amálgama bem equilibrada entre sua bela direção melancólica e um roteiro denso, escrito em parceria com Gustavo Galvão. Há sutileza e verdade em mostrar que país conservadores recém abalados por uma perda podem abrir os olhos para um mundo diverso de possibilidades, além da importância de romper com o isolamento e o tédio para poder seguir em frente. Tanto Cibele Tedesco quanto Hugo Lorensatti, atores veteranos e com uma admirável bagagem de conhecimento, são dirigidos com sensibilidade e cuidado, explorando aos poucos as camadas de seus personagens.

    Ostentando de belas paisagens e uma direção de fotografia que consegue captar com maestria a magnificência da Serra Gaúcha, Até Que A Música Pare, por outro lado, apresenta problemas de captação sonora, o que chega a ser incômodo, pois é preciso colocar o som no último volume para compreender alguns diálogos em português, quando não há legenda para traduzir o Talian.

    Metafórico, melancólico de início e até reconfortante no final, Até Que A Música Pare é um bom exemplo de drama nacional que explora fragmentos de uma dor sem se extrapolar ou apresentar clichês.

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