Em Awareness – A Realidade É Uma Ilusão, acompanhamos Ian (Carlos Scholz), um adolescente rebelde que vive com o pai à margem da sociedade. Eles sobrevivem de pequenos golpes graças à incrível habilidade do rapaz de projetar ilusões visuais na mente dos outros. Depois de perder o controle de seus poderes em público, duas facções em guerra começam a caçá-lo para impedir que ele conquiste novos poderes.
Pegar um enredo que dispõe altas doses de material genérico e temperá-lo com ingredientes promissores, como exemplo, cenas de ação frenéticas e bem distribuídas ao longo da trama, protagonista bem apresentado e com diversas camadas, situações que mexem e remexem com as especulações do público e, até mesmo, um leve, porém intrigante, suspense, é essencial para fazer tal conteúdo classificado como mais do mesmo se destacar e funcionar para o grande público e crítica. O fato é que, em Awareness – A Realidade É Uma Ilusão, o aproveitamento dessas vantagens que permitiriam um resultado satisfatório da ficção-científica espanhola, também não passa de ilusão.
Mesclando elementos dignos de mídias como A Incendiária/Chamas da Vingança, de Stephen King, O Exterminador do Futuro (James Cameron), Paprika (Satoshi Kon) e até mesmo Clube da Luta (David Fincher), Awareness é uma verdadeira amálgama de narrativas, o que não traria um resultado negativo à produção caso esta também se comprometesse com os fatores que fariam a ficção sobre poderes inimagináveis que rompem barreiras da realidade funcionar de maneira criativa e reflexiva. O roteiro de Daniel Benmayor e Ivan Ledesma perde drasticamente a oportunidade de extrair mais da boa premissa, podendo aproveitar melhor os poderes do protagonista e dos antagonistas, evitando, assim, uma mera perseguição entre gato e rato que o longa chega a proporcionar. As reviravoltas aplicadas no final do longa, em relação aos objetivos da mãe e do tutor de Ian e da verdadeira identidade da personagem Esther, vivida pela ótima María Pedraza, estão longe de ostentar criatividade, mas teriam ao menos funcionado como fatores surpresa caso não fossem introduzidos de maneira óbvia. Aliás, a falta de sutileza em qualquer apresentação técnica ou narrativa de Awareness, predominante no cinema espanhol, é desfeita aqui. Daniel Benmayor procura estabelecer uma direção competente, mas, chega a se perder nos próprios excessos.
Benmayor também encontra uma certa dificuldade em atribuir personalidade, tanto na escrita quanto na direção, dos vários personagens de Awareness. Apesar de, como já foi dito anteriormente, bem apresentados, como é o fato do protagonista Ian (Interpretado por um visivelmente esforçado, porém inexperiente, Carlos Scholz), o desenvolvimento das personalidades de heróis, secundários e vilões é precária e simplesmente jogada à trama. Uma verdadeira lástima, pois não fica claro os reais objetivos do interessante antagonista vivido pelo bem expressivo Óscar Jaenada.
Durante o desenrolar da trama, fica mais que evidente o investimento da Amazon Studios em Awareness. Se destacam bons e bem distribuídos efeitos visuais, práticos e computadorizados, além de bem ensaiadas coreografias de luta e uma bem trabalhada mixagem de som. A direção de fotografia optou por tonalidades mais frias, que conseguem compor o longa com maestria.
Clichê, mal aproveitado historicamente, ora confuso e perdido no próprio mix de conteúdos extraídos de produções melhores, Awareness – A Realidade É Uma Ilusão prometeu ser um grande filme, mas, a realidade é que tal promessa foi meramente ilusória.