dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Babilônia

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A existência de filmes que retratam épocas marcantes do cinema é algo até bastante comum ao longo dos anos, tivemos produções como O Artista, um retrato da dura transição do cinema mudo para o falado e como isso acabando prejudicando diversos atores acostumados com o velho hábito. E usando um exemplo mais recente, tivemos Era uma vez em Hollywood, uma verdadeira recriação de um período tão comentado, tudo pelas mãos de Quentin Tarantino. Agora, em uma espécie de mistura entre esses dois filmes anteriormente citados, temos Babilônia, novo longa de Damien Chazelle, um verdadeiro caos em tela, misturando comédia e drama.

Em Babilônia, no final da década de 1920, Hollywood passa por um período de grande mudança, com a transição do cinema mudo para os filmes falados. Uma grande estrela da indústria, cheia de sucessos de bilheteria, Nellie LaRoy, ascende em sua carreira, migrando com sucesso de um modelo cinematográfico para o outro. Porém, nem todas os atores têm a mesma sorte, trazendo, a inovação tecnológica, dificuldade para alguns.

Em seus materiais de divulgação, notícias ou até mesmo desde o anúncio da nova produção do diretor, existia um certo receio de diversas pessoas quanto ao objetivo do filme Babilônia. Por retratar uma época importante do cinema, poderia acabar caindo numa pegada mais saudosista do período e quase como uma total celebração das pessoas, estúdios e produções. O medo de ser basicamente um recorte obsessivo pela antiga Hollywood era grande, mas felizmente não é o encontrado aqui. Temos na verdade uma mistura das qualidades, mas também dos diversos defeitos de uma indústria tão podre que tira tudo de seus colaboradores, e depois descarta. Isso é retratado especificamente em dois personagens: Nellie LaRoy e Jack Conrad, a garota   sonha em se tornar uma estrela e parece disposta a fazer qualquer coisa para entrar nesse ramo, e infelizmente ela vai acabar nesse mal dos “15 minutos de fama” de Hollywood, onde terá aquele sucesso repentino, mas depois jogada de lado após críticas idiotas sobre sotaque ou o jeito de se comportar. Do outro lado temos Jack, veterano do cinema, conhecido e aclamado por todos, um dos atores mais bem pagos de sua época. Mas inevitavelmente o progresso vem e temos a transição do cinema mudo para o falado, e por bem ou por mal diversos atores não conseguiram se adaptar, seja pela falta de talento, dificuldades de decorar o texto ou até mesmo vergonha de falar em tela, sendo jogados para fora desse inconstante barco da indústria cinematográfica.

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Paramount

 Se pelo o mal dessa indústria temos essa fiel retratação de tudo de ruim que esse meio pode causar com suas pessoas, temos o lado divertido dessa gigante loucura que é viver numa época do constante crescimento do cinema. Isso é demonstrado logo na abertura do filme, de mais ou menos 15 minutos de duração, onde temos um ritmo acelerado e épico demonstrado durante uma grande festa entre famosos, um verdadeiro circo, com direito a elefante e tudo. É um cenário catastrófico, mas de uma maneira “boa”, ele convida o telespectador a entrar nesse mundo quase lúdico, totalmente diferente do resto do mundo, onde o que apenas importa é celebrar e viver. Aqui somos apresentados aos dois sonhadores do filme, Manny Torres e a já citada Nellie LaRoy, ambos sonham de alguma forma adentrar nessa indústria dos sonhos e ao acaso acabam se tornando amigos durante a festa inicial, compartilhando desejos, semelhanças e apreço pelo objetivo de cada um.

A comédia do filme é algo surpreendentemente divertido, existe um tom de exagerado aqui que funciona quase todo tempo durante suas três horas de duração. São desde os cortes secos, os diversos momentos esquisitos envolvendo fetiches e absurdos das celebridades, é algo que beira o pastelão, mas acaba funcionando na maior parte. Muito em conta do ótimo carisma do elenco e a total liberdade deixada para o diretor aqui. O ápice talvez seja a cena envolvendo uma das primeiras gravações se utilizando de som e microfone, é algo tão absurdo de engraçado que beira o ridículo, e é essa justamente a intenção.

Mas por outro lado não é possível elogiar o mesmo de todo o drama do filme, ocupando bastante espaço de tela. Ele passa uma sensação de incompleto ou apenas forçado, as dificuldades que os personagens passam não condizem com o mostrado em tela. Temos constantes passagens de tempo com seus protagonistas, então acaba que alguns problemas pessoais de cada um viram apenas recortes. Uma hora temos tudo lindo e maravilhoso, então corta e estamos dois anos depois para uma fase totalmente diferente daquela pessoa, se torna uma dificuldade ter o apresso necessário quando em alguns minutos já estamos em uma situação diferente da anterior, falta o desenvolvimento, ainda mais falando de um filme que tem tempo de sobra para desenvolver isso. 

Paramount

A parte musical do filme é um dos ápices da obra, todo o trabalho de trilha sonora e inserção da mesma com todo o filme é excelente, uma das melhores de 2022. Ela passa incrivelmente e eleva os momentos épicos de comédia e puro caos, conseguem dialogar com esse ritmo acelerado da obra. Não é surpresa o carinho e amor que o diretor tem pelo Jazz, já demonstrado em outros filmes do cineasta, aqui a inserção musical é totalmente natural e complementar. Destaque para a excepcional música Coke Room, tocada em diversos momentos do longa e com um impacto que ultrapassa o enjoativo.

Babilônia tenta impactar como um épico, ele consegue na maneira histórica, uma verdadeira recriação perfeita de uma época emblemática do cinema. No tom da comédia funciona em sua maior parte, traz um tom catártico daquele humor mais bizarro e exagerado. Mas já na parte do drama acaba devendo, existe sim um retrato dessa dificuldade de diversos atores gigantes que simplesmente não conseguiram passar do cinema mudo para o falado, causando então esquecimento ou até tragédias, mas falta profundidade. O filme peca na falta de desenvolvimento, abusando dos pulos temporais. De todo modo, o maior erro do longa é em sua passagem final, algo totalmente jogado em um deleite audiovisual saudosista, felizmente não é visto no restante do filme, mas seu fechamento beira o ridículo com toda essa homenagem forçada que o diretor lembrou que tem que fazer para o cinema, não combinando com o restante da obra. No final das contas, Babilônia não é uma experiência inesquecível com o diretor queria, mas está longe de ser algo difícil de assistir, suas três horas incrivelmente não atrapalham a jornada, e somos agraciados com uma obra divertida e extremamente bem feita na parte técnica e musical.

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