seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Babygirl (FESTIVAL DE VENEZA)

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Helina Reijn chamou a atenção dos cinéfilos, em 2022, com seu elogiado longa de estreia, Bodies, Bodies, Bodies. Apesar de pouco conhecida a época, seu filme conseguiu um sucesso considerável tanto com o público, quanto com a crítica especializada, despertando, no mínimo, curiosidade em relação ao seu próximo projeto. Agora, Reijn retorna com seu mais novo filme, Babygirl, que estreou hoje (30/08) no festival de internacional de cinema de Veneza.

Nicole Kidman vive Romy, uma poderosa CEO, entediada com a vida aparentemente perfeita que leva com seu marido e suas filhas. Forçada – por si mesma – a reprimir seus desejos e fantasias, ela se torna sexualmente frustrada e só se permite encontrar momentos fugazes de prazer em sites de entretenimento adulto. O cenário muda quando seu novo estagiário desafiador entra em cena e os dois engatam em uma espécie de relacionamento, que desafia as estruturas de poder entre eles.

Mãe em casa e patroa na empresa, a protagonista está acostumada a exercer autoridade sobre aqueles a sua volta, mas por dentro sonha em ser controlada, entregando parte desse poder e com ele a responsabilidade que o acompanha. A outra face dessa ânsia por ser dominada, é a necessidade de se deixar ser vulnerável para que possa ser cuidada. Por outro lado, Samuel está na base da pirâmide do mundo corporativo, ainda que seja o “homem da relação”, ele é seu submisso no ambiente de trabalho, contudo retorna ao “controle” durante seus encontros. Como uma gangorra de poder que fica constantemente mudando de lado: “homem-mulher”; “chefe-estagiário”; “dom-sub”.

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O problema de querer perder esse controle está nas consequências que isso pode trazê-la, já que na vida real, fora dos quartos de hotel, ela é quem tem mais a perder, e ao mesmo tempo em que isso a excita, também a assusta. Infelizmente, é preciso dizer que a sensação de perigo funciona melhor na teoria do que na prática. A diretora que outrora conseguiu criar situações bem tensas em seu primeiro longa, não tem o mesmo êxito aqui. Ainda que a ameaça exista textualmente, seu peso não chega a ser sentido.

Numa espécie de thriller erótico, mesmo que o thriller não seja assim tão eficiente, não chega a comprometer tanto o resultado equilibrado pelo erótico que é o charme do filme. As interações entre os dois podem até lembrar passagens de fanfics, mas a diretora consegue achar o tom certeiro que combina perfeitamente com essa proposta para evitar que sua história fique com ares de Cinquenta Tons de Cinza. Muito disso ela atinge através do humor de desconforto e estilização das cenas coloridas com toques de neon.

A espinha dorsal desse romance disfuncional é o desejo feminino, esse tabu que as mulheres são ensinadas a suprimir até não aguentarem mais. E como uma líder responsável foi capaz de botar tudo a perder na busca de satisfazer esses desejos que lhes foram negados a vida inteira, para alcançar ao lado de alguém um prazer que só conseguia sentir sozinha.

O filme é tão positivamente sem vergonha, quanto sua protagonista, e é isso que o torna tão divertido, a despeito da premissa que poderia facilmente ser um clichê de romance adolescente nas mãos erradas. Babygirl segue sem data de estreia definida no Brasil.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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