qua, 18 dezembro 2024

Crítica | Back to Black

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“Quero que as pessoas lembrem de mim como uma cantora”, diz Amy Winehouse (Marisa Abela) nos primeiros segundos do longa-metragem de Sam Taylor-Johnson enquanto um plano em câmera lenta coloca a protagonista correndo em direção a algo. Suscita-se questões a partir disso: para quem ela corre? Ou do que ela está correndo? Para tal, o filme nos leva narrativamente para alguns anos antes, para uma festa de aniversário em que Amy compartilha seus desejos de ser cantora com sua avó, Cynthia (Leslie Manville). Fica claro ao espectador que o desejo do longa é levar o olhar do espectador para o que estava acontecendo na vida pessoal da cantora quando seu primeiro álbum, Frank, explodiu no Reino Unido e proporcionou a cantora uma explosão no mundo anos depois através do álbum que intitula o filme: Back to Black.

Para isso, o filme não demora muito para inserir três personagens importantes para a trajetória de Amy: a avó, já mencionada; seu pai, Mitchell (Eddie Marsan); e, claro, Blake (Jack O’Connell), enquanto outras pessoas como sua mãe e seu produtor, Nick, orbitam na narrativa como meros satélites desimportantes, surgindo em cena quando convém ao texto. Não existe, por parte da narrativa, a intenção de apontar dedos – algo que o excelente documentário Amy (2015), de Asif Kapadia, faz com destreza. O filme Taylor-Johnson passa pela figura do pai e do marido da cantora sem grandes comentários, reproduzindo uma versão da história que mais soa como uma breve publicidade que qualquer outra coisa. Um diálogo próximo ao final do filme em que Blake comenta que os fãs querem fazê-lo de vilão é apenas um detalhe suave dessa construção que soa ainda mais problemática por outro motivo.

Amy, durante todo o projeto, é construída em torno dessa decadência, com ela sendo a principal agente ativa das consequências, muitas vezes fazendo com que seu relacionamento tóxico saia, de certa forma, menos controverso dessa projeção cinebiográfica. Logo, há a sensação de que o projeto sai mais como uma espécie de defesa daqueles que foram acusados que de fato interessado na complexa e errante trajetória de Amy. Tais pontos da própria forma que a narrativa se apresenta encadeada, encontram um entrave na abordagem estética escolhida pela cineasta. Se algumas cenas conseguem funcionar pela pontuação emocional (o momento em que Amy se despede de Cynthia ou quando ela ganha seu Grammy – uma cena bastante reproduzida, por exemplo), o filme na maior parte do tempo é bastante protocolar, caminhando para a mediocridade, como se optasse sempre pelo caminho mais fácil imageticamente.

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E, claro, quando isso acontece, quando o filme não consegue emular nenhuma sensação verdadeira através de sua abordagem, ele acaba dependendo intensamente da interpretação de sua protagonista. Marisa Abela consegue fazer um bom trabalho vocal – ao contrário de outros atores oscarizados que dublaram mal – muitas vezes alcançando a gravidade da voz de Amy, mas ao mesmo tempo fica evidente em seus olhos que ela busca uma imitação dos trejeitos da artista. Por exemplo, na primeira cena em que ela está sozinha, cantando acompanhada de seu violão, o movimento no pescoço característico de Amy parece mais um desejo de que ela finque seus pés como imitadora que como, de fato, alguém que lembra a cantora. E Taylor-Johnson faz questão de deixar isso evidente, quando ressalta esses gestos marcantes de Amy, construindo uma caricatura a partir da discografia da intérprete de Rehab.

Se suas músicas fazem parte do ponto emocional do filme, como aconteceu com Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer e Dexter Fletcher, muito se deve ao talento de Amy e não ao uso destas no longa. Back to Black, por exemplo, é vista através de uma montagem que é distensionada por inserts que são inexplicáveis; ou quando Love is a Losing Game, uma música importante para o próprio desenvolvimento da personagem, se limita a algo muito menos impactante do que deveria. Todos estes pontos postos, evidenciam Back to Black como um projeto cuja complexidade da protagonista se diminui e permite que se junte a tantos outros na sua inexpressividade. O filme se encerra com uma nova tentativa de que Amy seja lembrada como uma cantora, mas para isso, ela não precisaria de uma cinebiografia como essa. Sua voz permanece eterna.

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