Se você gosta de filme de ação, você sabe a importância que John Wick teve no gênero nos últimos anos. Desde o lançamento de ‘John Wick’ (2014) e de suas continuações – ‘John Wick: Um Novo Dia Para Matar’ (2017), ‘John Wick: Capítulo 3 – Parabellum’ (2019) e ‘John Wick 4: Baba Yaga’ (2023), todos dirigidos por Chad Stahelski -, o gênero de ação passou por uma nova referência, com coreografias de luta dinâmicas, com cenas de lutas e tiroteios inspirados em cenas do cinema de artes marciais, com uma escolha de cortes muito específica nas cenas, sem ser aquelas cenas de combate corpo a corpo ou de perseguições com inúmeros cortes na montagem. Além, claro, da qualidade da franquia, da figura do Keanu Reeves e do universo único criado. Buscando expandir esse universo nos cinemas, surge ‘Bailarina’, com a Ana de Armas como protagonista e um elenco recheado com Anjelica Huston, conhecida por trabalhar nos filmes dirigidos por Wes Anderson e por ‘Um Estranho no Ninho’ (1975), Norman Reedus, conhecido principalmente pelo interpretar Daryl Dixon na série ‘The Walking Dead’ e o elenco dos outros filmes da franquia, como Keanu Reeves, Lance Reddick e Ian McShane. O filme é dirigido por Len Wiseman, conhecido por dirigir, escrever e produzir ‘Anjos da Noite’ (2003) e ‘Duro de Matar 4.0’ (2007).
Após a morte do seu pai, Eve Macarro (interpretada por Ana de Armas) entra para Ruska Roma e é treinada para seguir suas missões como assassina, mas sempre buscando vingança.
Bom, qualquer fã dos filmes do “bicho-papão” já está acostumado com aquelas marcas tradicionais, né? Aquelas coreografias insanas de lutas, o tom escuro, a energia na tela quando aparece o Continental. A atmosfera de John Wick é passada por esse filme, mesmo que a equipe seja diferente. A escolha estética, especialmente em elementos como fotografia e a montagem, ainda se mantém fiel ao que foi apresentado nos outros longas, elementos que diferenciam ‘John Wick’ de outras franquias de ação.

Mesmo que mantenha a ação e continue a estilização dos filmes anteriores, ainda senti que não houve tanta sensibilidade para com a história de vingança da protagonista, como se o filme estivesse mais preocupado mesmo em “apenas partir pra porradaria”, uma opção mais comercial mesmo, e por isso não possui aquele peso dramático que existe, por exemplo, no primeiro ‘John Wick’. Toda a construção feita na relação de John com o cachorro, com a sua falecida esposa, constrói realmente um sentimento de vingança que faz o próprio espectador embarcar junto na história, mas em ‘Bailarina’ é quase como uma “morte protocolar”, que acontece, vai ser o catalisador para Eve começar sua vingança mas só, parecido com qualquer filme de ação que siga essa premissa de vingança (que não são poucos, convenhamos). Porém, mesmo sem essa sensibilidade, o primeiro ato acaba engrenando a partir da Eve adulta, com a presença da Ana de Armas em cena e o bom uso da estilização tradicional que já conhecemos da franquia, o uso da paleta,os cenários e figurinos, realmente sustentando o filme e dando aquele ar de que, sim, é um filme de John Wick. A fotografia, por exemplo, segue aquele tom azulado e escuro, junto com os figurinos que são sempre ternos ou elegantes. Eu gosto bastante principalmente da iluminação na fotografia, o contraste entre o frio e o calor, do laranja e azul, mostrando justamente a dualidade da história da protagonista e da sua “escolha”, como é deixado claro no filme, sua escolha entre buscar vingança ou seguir a vida como assassina. Por mais que pareça impossível, as coreografias de luta e a criatividade nas cenas de ação conseguem melhorar a cada filme, e em ‘Bailarina’ tem algumas das sequências mais criativas da saga, como a luta com as granadas, o corpo a corpo usando patins de gelo e, no clímax, o confronto com lança chamas.
‘Bailarina – Do Universo de John Wick’ mantém com as melhores e principais características da franquia, entregando até algumas das sequências mais criativas dentre todos os filmes desse universo de vingança. Ainda que não tenha a mesma sensibilidade que o primeiro, o filme consegue realizar uma boa história de origem, com uma mensagem clara do diretor a partir da sua linguagem cinematográfica.