ter, 16 abril 2024

Crítica | Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades

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Em “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” , o primeiro filme de Alejandro Gonzalez Iñárritu para a Netflix, um renomado documentarista mexicano volta para casa depois de 20 anos fazendo sucesso no exterior e passa por uma crise existencial enquanto lida com sua identidade, relacionamentos familiares e a loucura de suas memórias.

Trafegar entre sonhos e pesadelos, fatos e ficções, é uma explicação básica para o título do mais novo longa-metragem do premiado cineasta Alejandro Gonzalez Iñárritu, uma vez que o protagonista Silverio, que é uma personificação ficcional do próprio cineasta, é o grande condutor de toda a jornada onírica e introspectiva mostrada em tela, tal como um bardo faz, ao contar uma história fantástica. Mesmo que “Bardo” não seja uma obra autobiográfica, há semelhanças gritantes entre o personagem e seu realizador. Iñárritu, vencedor de dois prêmios Oscar seguidos de Melhor Direção (Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância e O Regresso), não filmava em solo mexicano desde o seu longa de estreia Amores Brutos (2000), sendo, assim como Silverio, carimbado a uma imagem de arrogância, por conta de suas obras e declarações. Com isso, vem o questionamento poderoso a respeito de como a influência do mercado Hollywoodiano está presente na obra de cineastas estrangeiros, a ponto de fazê-los vender tanto as dores quanto as belezas de seus respectivos países para a sétima arte norte-americana, mesmo que o artista não venha a compactuar com o que está sendo passado em tela. Iñárritu questiona a si próprio, pondo em tela que ele mesmo admite o cinema pretensioso que realiza.

Foto: Netflix/Reprodução

Com o roteiro assinado por Iñárritu, novamente em parceria com Nicolás Giacobone, a escrita de Bardo apresenta delirantes, porém louváveis ideias, que, infelizmente, extrapolam na subjetividade e no lado introspectivo da obra, provocando no público incertezas sobre o que está acontecendo, além de demorar para fazer o mesmo se identificar com a obra, o que também se dá pela exagerada metragem do filme. Mas, uma vez que compreendemos e tomamos as angústias de seu protagonista, brilhantemente representado pelo ator Daniel Giménez Cacho, passamos a compreender o que se passa, destacando perdas prematuras, crise de meia idade, crise de idenidade, conflitos com a própria pátria e ausência, além de metáforas envolventes, apesar de um tanto confusas, sobre a história do México.

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A incomparável capacidade técnica de Iñárritu é valorizada em seu ápice, em “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”. Aqui, o diretor conduz toda a obra com maestria, como se estivesse regendo uma orquestra, ou arquitetando o posicionamento dos atores e objetos em cena de uma peça de teatro dramática. As câmeras passeiam livremente por entre os mais inimagináveis cenários criados na cabeça do personagem/cineasta, além de acompanhar com maestria toda a exuberante direção de fotografia de Darius Khondji, que está recebendo sua segunda indicação ao Oscar, pelo longa. A composição das cenas, excepcionalmente construídas, que ostentam simetria, cores, sombras, reflexos e tonalidades distintas em cada momento onírico da trama, é de se encher os olhos devido a tamanha perfeição, o que faz de “Bardo” um filme tecnicamente impecável, ainda mais quando também levamos em conta os notáveis trabalhos de edição, direção de arte e trilha sonora.

A habilidade de condução de uma narrativa do diretor também se dá quando este sabe como dirigir um elenco. Responsável por assumir a maior parte do longa e de sua carga dramática, Daniel Giménez Cacho brilha como Silverio, atribuindo ao personagem várias camadas e sentimentos essenciais para tornar seu personagem tão complexo. No elenco, também se destacam Griselda Siciliani, Ximena Lamadrid e Íker Sánchez Solano, respecivamente Lucia, Camila e Lorenzo, esposa, filha e filho do proagonista.

Daniel Giménez Cacho e Ximena Lamadrid em cena de Bardo. Foto: Netflix

Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades é um aglomerado de fragmentos de uma vida de conquistas, vitórias e infortúnios, interpretados de maneira teatral e surrealista ,em um longa que, tanto retoma as raízes mexicanas de Iñárritu, quanto também serve como uma crítica ao olhar esrangeiro e da elite sobre o México. Vale destacar que o cineasta faz questão de brincar com realidades e possibilidades, além de aproveitar a peculiar estrutura narrativa aqui adotada para contar a história de seu país, recheada de surrealismo.

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