sáb, 1 fevereiro 2025

Crítica | Batalhão 6888

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Indicado ao Oscar de melhor canção original, Batalhão 6888 estreou na Netflix em dezembro do ano passado e conta a história do primeiro e único batalhão do exército americano formado apenas por mulheres negras a ser enviado para Europa durante a segunda guerra mundial.

Na trama, a jovem Lena Derriecot decide se alistar após receber a notícia de que seu amado fora morto em combate. Durante seu treinamento é colocada sob os comandos da implacável Major Charity Adams, ela treina suas pupilas com mãos de ferro, mesmo sabendo que dificilmente serão mandadas para a guerra, pois os superiores em Washington não acreditavam na capacidade de mulheres negras.

Quando o Presidente Roosevelt descobre que seus soldados não estão conseguindo receber ou enviar cartas para seus familiares, devido a um problema com a entrega das correspondências, as moças do Batalhão 6888 são chamadas para dar conta da difícil tarefa de entregar todas as correspondências acumuladas, em um curto espaço de tempo. Sem qualquer tipo de suporte governamental, nem mesmo uma base adequada para se instalarem e enfrentando resistência de compatriotas que torciam pelo seu fracasso, essas mulheres farão o impossível para finalizar a missão que lhes foi dada, provando que são tão competentes quanto quaisquer mulheres ou homens brancos, enquanto eram sabotadas por aqueles que supostamente deveriam estar lutando ao lado delas e não contra.

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O filme é competente quando trabalha o combo de racismo e machismo estrutural enfrentado pelas mulheres negras do exército, que foram colocadas de escanteio em uma época que as forças armadas precisavam de sua ajuda, mas se negavam a contar com o auxílio de um grupo considerado inferior. Quando finalmente confiam-lhes uma tarefa hercúlea, não é porque seus superiores passaram a acreditar em sua capacidade, e sim porque torcem para que falhem, ainda que isso prejudique seus próprios soldados. Provando que seus preconceitos falavam mais forte que o patriotismo do qual tanto se orgulhavam.

Apesar de ser baseado em uma impactante história real, o diretor dilui parte desse impacto por perder tempo demasiado com um (para não dizer dois) romance desinteressante, que serve de catalizador para todas as ações de Lena. Há cineastas que conseguem entrelaçar bem duas ou mais histórias e combinar diferentes gêneros, mas esse não é o caso de Tyler Perry nesse filme, que tenta usar o romance para nos aproximar das dores da protagonista, quando isso não era necessário dado o contexto em que ela se encontrava. Ressalta-se, o problema não é a história de amor retratada, mas sim a forma empobrecida como ela é utilizada.

Com o tempo que perde para “desenvolver” (entre muitas aspas) esse romance, o diretor não consegue dedicar o mesmo cuidado para as demais personagens, que acabam virando nada além de estereótipos: a certinha que é filha do pastor, a doidinha que fala muita besteira, a mexicana, até mesmo a Major Charity que é de longe a melhor parte do filme – mais pelos esforços de Kerry Washington (Scandal), do que graças ao texto – acaba, em vários momentos, sendo reduzida ao lugar comum de chefe durona com um coração bom. Os vilões também são maldosos em um nível cartunesco, e o principal deles é outro caso que se salva muito por conta do trabalho de Dean Norris (Breaking Bad). Um filme com um material base tão poderoso acaba tropeçando demais na sua condução e ao invés de emocionar, se torna cansativo e mais um drama de guerra genérico e batido, sem muito de interessante para oferecer além de uma boa premissa e alguns atores fazendo o que podem para tentar dar alguma autenticidade ao projeto.

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Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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