seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Beau Tem Medo

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Partindo dessa leva de jovens diretores do terror que alcançaram um bom prestígio em seu início de carreira, temos exemplos mais conhecidos como Robert Eggers, Jordan Peele e um dos queridinhos do terror no momento: Ari Aster. Em seu mais novo projeto, Beau Tem Medo (Beau os Afraid), somos embarcados nessa mistura peculiar entre comédia e drama durante suas três horas de duração. Diferente de seus longas anteriores, o diretor traz um exercício de loucura quanto a vida e medos de nosso protagonista. Afinal de contas, do que realmente Beau tem medo?

Beau (Joaquin Phoenix) é um homem de boas maneiras, mas muito ansioso e paranoico, que tem um relacionamento tenso com sua mãe arrogante e nunca conheceu seu pai. Quando a matriarca morre repentinamente, ele embarca em uma jornada difícil de volta para casa, enfrentando seus medos e até mesmo assombrações.

É curioso notar a “diversão” encontrada nas primeiras passagens de Beau Tem Medo, acompanhamos um homem notavelmente diferente, com claros traços de ansiedade, instável e paranóico com sua vida. Com esse pequeno deslumbre da caótica vida de Beau, é mostrado que seu próximo passo é viajar para visitar sua mãe, algo aparentemente comum. Mas após um pequeno descuido com suas chaves e mala, a bola de neve em sua vida começa a se formar, após isso, são inúmeras reviravoltas em relação ao ambiente á sua volta. Desde mendigos invadindo seu apartamento, o desespero de engolir remédios sem beber água, ser “adotado” por uma estranha e simpática família, e assim por diante. Essa construção do primeiro e segundo ato são muito bem elaboradas para demonstrar esse exagero do mundo que o cerca, mas também seus próprios problemas internos, algo devidamente mostrado desde seu nascimento. Essa junção de ocorridos traz um tom humorístico acertadíssimo para o longa.

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Foto: A24/Reprodução

Fica bastante claro o tipo de abordagem que o diretor quer encenar aqui, diferente de seus outros dois filmes, uma pegada mais tragicômica, ainda mais levando em conta as reações do protagonista com as inúmeras situações hostis em seu vida. Então é totalmente normal se pegar rindo, mesmo incrédulo com a situação apresentada, são momentos que servem para agregar com a construção do personagem, e assim conhecermos mais sobre seu comportamento. Além disso, o filme consegue até que naturalmente transitar entre diferentes reações e gêneros, variando entre a comédia, drama e até um pouco do terror psicológico.

Essas diferentes reações são causadas até por pequenos momentos do filme, como quando acompanhamos uma breve passagem de sua infância/adolescência, interpretado por Armen Nahapetian, que incrivelmente não é um CGI, mas sim um ator assustadoramente parecido com Joaquin Phoenix em sua infância. É um momento do filme que contribuiu para aquele grau esquisito da obra, mas revela um pequeno romance do garoto com uma recente amiga, um breve momento de vida comum para o mesmo, e também para entendermos mais sobre essa relação conturbada entre mãe e filho. Apesar de ser uma passagem relativamente rápida comparada ao restante da obra, demonstra um apresso por diferentes fases da vida de Beau.

O filme levanta diversas provocações e dúvidas quanto aos acontecimentos ao redor de Beau, temos uma ideia sobre seus problemas psicológicos, mas o diretor quer causar essa inquietação até seu terceiro ato, onde passa a responder grande parte das perguntas. E justamente em sua última parte que o filme acaba perdendo sua força, onde busca trabalhar suas metáforas e soluções um tanto quanto alongadas ou pretensiosas demais, paralisando aquele imersão antes apresentada. Exemplo disso, é a cena de um “breve” devaneio do personagem quanto sua vida ao assistir uma inocente, porém eficaz peça de teatro, traçando um paralelo com sua vida. É uma sequência visualmente chamativa quanto sua forma de contar história, mas peca ao se alongar demais e causando uma espécie de perda de controle.

Foto: A24/Reprodução

Quanto a atuação de Joaquin Phoenix, existe uma ligação interessante a direção de Ari Aster, ele deixa claro o filme inteiro que todos os holofotes são de seu protagonista, desde seus posicionamentos de câmera, trabalhando as reações do ator com as situações e seu o ambiente ao seu redor, usando o giro de 90° graus, incrementando a atuação de Phoenix e a imersão da obra. E falando de reações, o ator entrega um papel convidativo quanto sua inocência, medo e comédia. Apresentado um grau tragicômico ao seu personagem fracassado, com inúmeros problemas maternais e psicológicos, mas uma doçura que faz o telespectador ficar ao seu lado.

Beau Tem Medo é uma daquelas experiências curiosas do cinema, seja pra bem ou pra mal. Com certeza será um divisor de águas entre pessoas que vão amar, obra prima, etc. Mas também será motivo de desprezo ou talvez uma interpretação de um degrau alto demais que o diretor Ari Aster queira entregar. É uma obra divertida e com situações muito boas de se acompanhar, nosso protagonista ajuda com isso, principalmente até sua metade. Quando ele quer trabalhar essa questão das metáforas e respostas mais diretas quanto seus problemas apresentados, acaba que se auto sabotando ou perdendo o controle. No geral, é um exercício curioso quanto comédia/terror, vale o ingresso para o cinema.

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