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    Crítica | Bel-Air

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    Quando se trata de reboots ou revivals de produções passadas, é comum se observar certos tipos e padrões para essas reimaginações. Um tipo dessas releituras é apostar mais no drama da história, deixando de lado os aspectos mais inocentes e cômicos da narrativa da obra original. Bel Air(2022) entra nesse caso, com um elenco e equipe de produção completamente diferentes, a série é um reboot/remake da icônica série Um Maluco no Pedaço(1990) e busca fugir do gênero sitcom para trazer uma abordagem dramática para seus personagens. Sendo reimaginada por Morgan Cooper e Will Smith, a produção se aprofunda nos mesmos temas e tons de um curta produzido por Cooper 3 anos antes do lançamento da série.

    Comparações com a primeira versão se tornam inevitáveis apesar de Bel Air querer ser vista como sua própria obra. Seguindo a proposta de maior drama, as releituras dos personagens da comédia dos anos 90 se apresenta mais séria, mas ao mesmo tempo mais sensível e crítico. O maior exemplo disso é o primo do personagem principal: Carlton Banks. Sem o carisma ingênuo de Alfonso Ribeiro, o personagem é visto com maior foco em suas hipocrisias elitistas, o que é uma abordagem bem-vinda para uma série lançada em 2022 que aborda desigualdade social e racismo como temas. O mais semelhante à sua contraparte noventista é o personagem Will Smith, Jabari Banks consegue entregar um carisma e gingado igual, ou até maior, que o ator que leva o nome do personagem. O Will de 2022 é um jovem de 16 anos, nascido e criado em Filadélfia, que se vê obrigado a encarar uma realidade social completamente diferente da que está acostumado após uma sequência de acontecimentos desmantelar a sua vida.

    Apesar da direção estilosa e cenas dramáticas densas, o maior trunfo de Bel Air se apresenta como uma faca de dois gumes, nos primeiros episódios o protagonista é posto à prova para amadurecer e aceitar sua nova realidade enquanto tem lidar com os conflitos causados pelo seu primo devido ao choque de culturas. Esses embates nos fazem conhecer muito melhor tanto Will quanto outros coadjuvantes que reagem aos acontecimentos de forma coerente e sensível, porém após alguns episódios, boa parte dos conflitos são resolvidos, o príncipe de Bel Air evolui como personagem e como pessoa tão rápido a ponto de que no meio da temporada se encontra perdido na própria série. Isso leva os criadores a darem maior foco no drama dos outros personagens estabelecidos, o que pode ser visto como algo positivo, até porque uma boa série é construída por um elenco coadjuvante profundo e competente, mas isso fez com que o protagonista fosse visto apenas como a âncora emocional desses personagens. Tendo seus conflitos e arcos já concluídos em menos de 5 episódios, o resto do núcleo de Bel Air olha para Will com admiração, tratando o jovem como um ser especial e brilhante, criando uma fantasia de poder e artificialidade no adolescente.

    Com sorte, a narrativa se salva nos dois últimos episódios, Jabari Banks volta para a função de protagonista, tendo uma narrativa já vista em Um Maluco no Pedaço, que sempre foi vista por fãs da série como um dos melhores momentos da comédia. O último episódio da primeira temporada fecha linhas e mistérios que estavam se levando desde o piloto, Banks consegue entregar um garoto inconformado e decepcionado com a situação que se encontra, apresentando um novo conflito para que ele possa enfrentar na próxima temporada.

    Bel Air segue a linha de reinvenções de propriedades intelectuais rentáveis, mas mesmo com o nariz torcido para esse tipo de produção, consegue surpreender e encantar o público com o seu potencial dramático, carisma e charme dos moradores de Los Angeles que a série nos convida a acompanhar. Fica claro como, apesar de ter personagens com os mesmos nomes, Morgan Cooper nos mostra sua sensibilidade e competência dramática numa história nova, falha mas charmosa, que ainda pode nos entregar muito mais no futuro.

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