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    Crítica | Better Man

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    É um discurso corrente de que as biografias cinematográficas, ou biopics, estão saturadas, seguindo sempre as mesmas fórmulas, os mesmos esquemas emocionais e reproduzindo clichês, entre outros argumentos. Não há dúvida de que isso é um fato. Contudo, é importante destacar que, embora esses filmes não tentem necessariamente romantizar a vida de seus protagonistas, buscam, muitas vezes, apresentar uma versão do artista ao espectador que conhece suas músicas, mas não sua história pessoal. Em outros casos, o objetivo pode ser corrigir ou alterar uma percepção equivocada sobre a figura retratada.

    Back to Black, por exemplo, segue a segunda abordagem, ao tentar dar envernizar a família de Amy Winehouse, enquanto Rocketman se utiliza da primeira para amplificar a grandiosidade de Elton John. Better Man, dirigido por Michael Gracey, tem em Robbie Williams uma figura que se torna narrativamente fascinante por carregar consigo um arco dramático bastante específico: o do homem que, seduzido pelo estrelato, atinge o fundo do poço e ressurge com uma nova forma de convivência. Mas, se tal desenvolvimento de personagem é, por si só, interessante, como evitar as fórmulas saturadas do gênero que já parecem ter sido exploradas em demasia?

    E aqui surge uma ideia inicialmente absurda, mas que acaba por se mostrar intrigante: por que não transformar Robbie Williams em um macaco? Ao buscar representar visualmente a essência interna do artista, o diretor consegue imprimir frescor à abordagem. Ele não utiliza os efeitos visuais apenas para construir a imagem do protagonista – e suas diferentes versões à medida que a trama avança –, mas também para potencializar o aspecto de espetáculo que o filme propõe. Cada momento musical – com destaque para os envolvendo o Take That – parece carregar consigo a energia e o vigor que Williams transmite tanto nos seus momentos mais íntimos quanto no palco.

    O que Gracey faz ao longo do filme é infundir em todas as suas escolhas fílmicas elementos que podem ser associados à persona que Robbie Williams construiu ao longo de sua carreira. A experiência do diretor com The Greatest Showman fica patente na maneira como ele trabalha os números musicais: planos-sequência com transições imperceptíveis, efeitos visuais para realçar os sentimentos dos personagens – como na dança entre Robbie e Nicole, no meio do filme – e uma busca incessante pelo que há de mais estimulante visualmente.

    No entanto, embora essa abordagem possa soar interessante na primeira hora do filme, ela, aos poucos, vai se tornando cansativa. A busca por momentos grandiosos em termos visuais, começa a pesar no ritmo da narrativa. Isso fica claro quando o esforço para criar essas cenas deslumbrantes se torna excessivamente perceptível, gerando um estilo visual tão exacerbado que parece carregar ainda mais o filme. Ou seja, o filme ao tentar desviar constantemente das decisões que o fariam tradicional quase esbarra na saturação de seu próprio estilo. Ele só consegue escapar por ter momentos emocionais muito bem articulados, provocando o espectador através do emocionalismo da relação entre pai e filho.

    Retornando ao início do texto, Better Man é uma biopic que inova na forma que lida com seu personagem central, mas será que foge da própria fórmula do gênero? De fato, ele enxerga seu personagem naquilo que ele carrega de maior defeito: o narcisismo. Ou seja, ele é apresentado ao espectador através dessa versão, sem necessariamente construir uma defesa em torno dele. Mas é inegável que o produto é construído em torno de uma reabilitação moral e imagética de Robbie Williams, tanto para aqueles que já lhe conheciam como para novas audiências que serão apresentadas a uma das maiores estrelas britânicas. Tal característica não precisa ser vista como demérito ou qualidade; é apenas uma pergunta que deve ser levantada quando a ideia de inovador está diretamente associada ao filme.

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