seg, 18 novembro 2024

Crítica | Biônicos

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Ambientado em um Brasil futurístico distópico, Biônicos mostra o progresso na robótica que faz os atletas paraolímpicos as novas estrelas do esporte. Quando Maria, uma promissora esportista, se vê ofuscada pelo sucesso da irmã, ela entra em um mundo de crime e violência para garantir a outros atletas a mesma oportunidade daqueles que foram aprimorados tecnologicamente.

É fascinante como a distopia, dentro do gênero da ficção-científica, continua se atualizando a medida que novas (e, talvez, perigosas) tecnologias surgem para desafiar a humanidade em um futuro não muito distante. Mestra em desenvolver interessantes histórias dentro dessa proposta caótica e intensamente debatível, a Netflix investe pesado na produção brasileira Biônicos, de Afonso Poyart, cineasta este que já flertou com a ficção no estiloso e criativo 2 Coelhos (2012). Nessa nova produção, é perceptível um generoso apreço pela interessante premissa crítica que envolve impactos da tecnologia numa sociedade futura que se vê substituída pela máquina. A força dessa ideia, constantemente levantada e lembrada ao longo da projeção, por outro lado, não parece ter a devida atenção, já que o longa de Poyart se prende mais na questão técnica, tornando Biônicos uma experiência narrativa visual, porém cansativa, que ofusca sua boa história.

De fato, a direção de fotografia, efeitos visuais e design de produção de Biônicos excede expectativas. Há um certo charme na montagem entre cenas e efeitos computadorizados, bem detalhados e distribuídos com generosidade ao longo da projeção, já que a qualidade gráfica se mantém tanto em sequências diurnas quanto noturnas. Contudo, é inegável que o filme seja visualmente bonito, apesar de não apresentar novidades além de ser um acréscimo nas estatísticas de filmes nacionais com bons efeitos, já que, por vários momentos, não há originalidade nas cenas de ação, que também não conseguem se sobressair por serem rápidas e sem estabilidade na filmagem, ocasionando imagens frenéticas e tremidas que prejudicam a projeção.

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Imagem: Netflix/Reprodução

Não basta investir em uma produção que preza pelo espetaculoso no visual, a ponto de quase se tornar uma reciclagem de produções verdadeiramente inovadoras (impossível não associar fotografia e direção de arte a Blade Runner, Akira, Minority Report, entre outros), quando não se tem um verdadeiro investimento no roteiro. Assinada por Josefina Trotta, a escrita de Biônicos pouco eleva a seriedade de seu poderoso argumento, podendo intensificar a pauta dos perigos da tecnologia no desenvolvimento e trabalho humano, assim como os seus avanços também podem dar novas oportunidades para quem antes não tinha chances. O filme também parece não saber administrar seu tempo, nem fazer um uso adequado de dois dramas paralelos que se entrelaçam após um ganhar destaque sobre o outro e, dessa forma, fazer parecer com que a narrativa apresente dois filmes diferentes. Há uma escassez de conteúdos e detalhes sobre a organização criminosa de Heitor, personagem de Bruno Gagliasso, de ideias louváveis e atitudes questionáveis. O astro também pouco convence como antagonista, entregando com limitações um personagem, em teoria, interessantíssimo, que tarda ao provar para que veio. Energéticas e repletas de carisma e emoções, Jessica Córes e Gabz, que interpretam Maria e sua irmã Gabi, respectivamente, carregaram toda a carga dramática da trama e tentam subverter um roteiro que esbanja clichês com suas boas atuações.

imagem: Netflix/Reprodução

Em Biônicos, acabamos por nos acostumar com a bagunça narrativa causada pela produção. No terceiro ato, acontecimentos em excesso começam a se desenrolar a ponto de gerar confusão e estranheza. Parece que a produção estava desesperada em dar um desfecho de imediato à obra.

Com grandes efeitos visuais, elenco de peso, premissa interessantíssima uma boa protagonista, Biônicos todos os mecanismos para dar certo. Porém, a produção optou por continuar em um navegador antigo, sem novidades, e ignorar atualizações que só trariam benefícios.

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