dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Bob Marley: One Love

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      Bob Marley foi um dos músicos mais relevantes do século 20. Sua importância transcendeu o gênero do reggae e suas mensagens sobre pan-africanismo, união e a filosofia Rastafari ressoaram com diversas gerações. Não é de se espantar que a vida do músico em algum momento receberia o tratamento cinebiográfico hollywoodiano, e a tarefa ficou nas mãos do diretor Reinaldo Marcus Green, que conseguiu algum destaque com o ainda recente filme King Richard. Mas afinal, Bob Marley: One Love atende as expectativas e faz juz à rica história de vida do cantor? 

      O filme acompanha um recorte específico da vida e carreira de Bob Marley, focando principalmente no período entre 1976 e 1978 quando uma série de tensões sociais e o envolvimento direto da figura do cantor com a situação política na Jamaica resultam em uma tentativa de assassinato e o eventual período de exílio de Bob na Inglaterra. Apenas por esse resumo já é possível supor que existe muito a se falar sobre a relação de Bob com o povo jamaicano e a situação do país, mas por incrível que pareça One Love parece não dar muita importância para isso, tentando focar apenas na situação emocional de seu protagonista durante o período.

      Se a intenção aqui era construir um perfil de Bob a partir do recorte de um período intenso em sua vida, é triste dizer que o filme não atinge o sucesso. O longa chama a atenção para diversos aspectos da vida do cantor, sejam suas origens, sua filosofia de vida, sua trajetória e também o contexto em que ele se encontrava apenas para logo depois não adentrar muito no assunto. Fica a impressão de que diversas passagens estão faltando para que a obra como um todo parasse em pé, mas essa lógica de datas e acontecimentos não necessariamente faz de um filme bom ou ruim. Talvez uma abordagem poética visualmente pudesse sustentar a falta de interesse em dar estofo para o roteiro. Não dá para dizer o quanto a relação da família de Marley com a produção do filme afetou o desenvolvimento, mas é um pouco frustrante que a regra aqui seja o comprometimento com a superficialidade.

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      A utilização de elementos simbólicos, de sonhos e visões, que segundo Ziggy Marley faziam parte de quem Bob era na vida real, não são muito bem utilizadas dentro do filme e acabam servindo mais como um escape para tentar sensibilizar dentro de uma narrativa que não tira muito de uma história que no papel já é interessante. Tanto Kingsley Ben-Adir quanto Lashana Lynch (que interpretam Bob e Rita Marley, respectivamente) se esforçam para fazer com que seus arcos dramáticos funcionem mas o roteiro não fornece conteúdo para que ambos consigam trabalhar, tudo parece muito corrido mesmo que na prática seja um filme que reduz seu olhar a um período curto, mesmo que denso. 

      O lado musical aparece aqui mais pela perspectiva da criação. Não são muitos momentos que valorizam Bob em sua performance, talvez até por uma autoconsciência da dificuldade que Ben-Adir tem em representar esse aspecto do cantor, mas talvez algumas das melhores passagens de One Love sejam dentro do estúdio, acompanhando um pouco da intimidade ou da colaboração dentro de um projeto criativo.

      Bob Marley: One Love não faz jus a figura que representa. O filme parece se contentar com o mínimo do mínimo e mesmo em seus melhores momentos ainda é limitado por uma falta de interesse em adentrar alguns aspectos da história ou de linguagem cinematográfica que intensifiquem a experiência. Mesmo com uma ideia de recorte e de aproximação dos personagens definida, não faltou espaço para esse filme crescer e isso ele infelizmente não faz.

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Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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