Em Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo, acompanhamos Lilith (Cate Blanchett), uma infame caçadora de recompensas com um passado misterioso, que retorna para o lugar onde cresceu, Pandora, o planeta mais caótico da galáxia. Sua missão é encontrar a filha desaparecida do homem mais poderoso do universo, Atlas (Edgar Ramírez), mas tudo muda quando ela descobre que menina se reuniu a um grupo para encontrar um tesouro perdido.
As adaptações de jogos famosos para o cinema passaram por uma boa fase no ano passado, com Super Mario Bros.: O Filme, Dungeons and Dragons: Honra Entre Rebeldes e a série de The Last of Us, o que nos levou a acreditar que esse subgênero cinematográfico, que já enfrentou os mais variados estágios, tivesse de fato encontrado um rumo certo que o levaria para a tão almejada vitória. Com Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo, no entanto, o estilo parece ter amargamente regredido à sua simplória e repetitiva fase inicial ao apertar o “play” no recurso copiar insistentemente uma boa fórmula a ponto de transformá-la em algo irritante.
Talvez em uma tentativa frustrada de expandir sua investida em diversificados subgêneros cinematográficos, o realizador Eli Roth decidiu se afastar dos seus tradicionais (e funcionais) terrores e suspenses, como o mais recente Thanksgiving e o clássico O Albergue, para se aventurar em uma ficção que, de acordo com o próprio, fosse uma “mistura de Star Wars, Fuga de Nova York e Mad Max”. Deixando essa fusão clara em materiais promocionais e trailers, a produção de Borderlands ainda alimentou as esperanças de um público carente de filmes de ação com equipes desreguladas e fora do padrão, que esperava uma junção entre Guardiões da Galáxia e O Esquadrão Suicida, ambos de James Gunn. Mas, a errônea arte da comparação entre elementos similares (ou não) somente na estética prevaleceu. Borderlands, na realidade, não tem qualquer cacife para ser comparado a essas produções, já que o longa da Lionsgate nada mais é que mix bagunçado e carregado de clichês que funcionam somente nesses longas que trabalham em conjunto com uma identidade própria. O filme de Eli Roth é desprovido de qualquer elemento que lhe conceda personalidade, desde o visual até na apresentação e desenvolvimento de seus personagens, reforçando a preocupante crise pela busca de identidade e inovação por parte do cinema do gênero ação, que vem se afundando em produções algorítmicas que mais servem como lavagem de dinheiro do que entretenimento de qualidade.
Escrito de maneira automática pelo próprio Roth, em parceria com o estreante Joe Crombie, o roteiro da adaptação tenta seguir à risca a história proposta pelo game, sem intenções de agregar algo inventivo para a história, parecendo, por diversas vezes, ter sido desenvolvido por chat GPT. E, o que uma escrita despreocupada com argumento e desenvolvimento deste tem para se comprometer com seus diversos personagens? Pouco, beirando o nada. Apesar de contar com um elenco volumoso, repleto de nomes importantes e que todos nós temos grande afeição, Borderlands não trata seus personagens e atores com o devido respeito. Aparentemente incomodados de estarem ali, personalidades como Cate Blanchett, Jamie Lee Curtis, Kevin Hart e a jovem e promissora atriz Ariana Greenblatt, tentam se esforçar, mas não conseguem esconder o desgosto ao tentarem dar vida à personagens tão mal escritos. Apesar de irritante, o personagem de Jack Black, o androide Claptrap, e o brutamontes de Florian Monteanu, Krieg, parecem ser os únicos a serem interpretados com menos vergonha, provavelmente pelo de Black emprestar somente sua voz e Monteanu não mostrar o rosto. Salvo Lilith e Tina, de Blanchett e Greenblatt, respectivamente, nenhum protagonista tem alguma história, ou personalidade por trás do visual caricato.
Apesar de aderir a uma identidade visual cafona, não podemos negar a fidelidade aos games principalmente no figurino, bem desenhado e condizente com a temática futurista alternativa da história. Tirando esse ponto positivo, um dos únicos aliás, nem mesmo as cenas de ação, que são escassas e não ocupam mais da metade da cansativa metragem de apenas 1 hora e 40 minutos do longa, se salvam da mediocridade. A produção de Borderlands peca por atribuir uma edição ansiosa, com inúmeros cortes confusos que não valorizam as cenas. Além desse grave empecilho, a direção de fotografia optou por planos fechados e sem qualquer pretensão de enquadramento que pudesse agregar valor às sequências, que já sofrem com uma má condução e escondem suas imperfeições com explosões e efeitos em CGI de doer os olhos. Talvez, a única construção em computação gráfica realmente bem desenhada tenha sido o robô tagarela dublado por Jack Black.
Piegas no intuito de parecer descolado, mas altamente distante de ser divertido, Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo parece uma tentativa frustrada de preencher o vazio de um público saudosista e carente de filmes de equipe padrão Marvel Studios, porém sem zelo pela ação, humor, personagens, ou por absolutamente nada além de querer ser mais um título de ação.