O diretor cearense Halder Gomes volta a direção para mais uma parceria com o ator Edmilson Filho, uma parceria que já tem filmes conhecidos na comédia nacional recente. ‘Bem-Vinda a Quixeramobim’ (2022), ‘Cine Holliúdy’ (2013) e ‘O Shaolin do Sertão’ (2016) são alguns desses projetos especiais que tocaram o gênero no Brasil nos últimos tempos. O filme tem no elenco de apoio Gustavo Falcão e Nill Marcondes, conhecidos por papéis coadjuvantes em grandes filmes nacionais, além de Alana Ferri, e Tóia Ferraz.
Após o assassinato de um médico e o seu projeto ultrassecreto correr o risco de cair em mãos inimigas, o agente Kárkara (interpretado por Edmilson Filho) recebe a missão de proteger as informações e enfrentar uma série de vilões caricatos.
Uma paródia é sempre um território curioso no cinema, pois exige equilíbrio entre homenagem e exagero cômico. No Brasil, a tradição de subverter ou brincar com os modelos hollywoodianos e europeus é longa e, muitas vezes, bastante bem-sucedida, como mostram obras que conseguem rir de clichês enquanto constroem algo próprio. ‘C.I.C.: Central de Inteligência Cearense’ se insere nesse contexto, buscando se apoiar nessa tradição de humor nacional, e já deixa claro desde o início seu objetivo de exagero extremo: efeitos visuais propositalmente toscos, edição sonora caricata e atuações ao absurdo. A obra, inclusive, brinca diretamente com o subgênero de filmes de agentes secretos, fazendo piada com a famosa frase “Bond. James Bond.”, estabelecendo um tom de paródia que combina referências internacionais com o humor regional. A proposta, portanto, é clara, mas abre caminho para a grande questão: até onde esse tipo de paródia consegue sustentar uma narrativa coerente?

É mais uma questão de o que fazer depois. A gente entende e sabe que é uma paródia desde o começo com os efeitos visuais toscos, a edição de som mais que exagerada, a atuação caricata ao extremo. Acho que o problema é sobre o que fazer com tudo isso, porque depois que esse universo é estabelecido no filme, os próximos 80 minutos são apenas uma sequência de esquetes diferentes tentando emplacar uma piada atrás da outra com uma série de inquietações irritantes, para dizer o mínimo. Ainda que as atuações sejam boas, especialmente a aparição dos coadjuvantes, é uma grande decepção o fato do filme parecer querer representar o Ceará mas não conseguir, é como se apenas a representação em tela dos maiores estereótipos possíveis que alguém pode ter de um cearense fosse o suficiente para isso. Além do fato do filme ser falado mais em espanhol do que em português, só há propriamente uma sequência dentro da história do filme que tem realmente um cenário cearense, a sequência do jogo do Fortaleza, no Castelão, sem mais citações ou até outros tipos de menções ao povo cearense de forma mais tocante, o resto são mais planos rápidos da cidade que aparecem e, claro, as inúmeras gírias e trocadilhos do protagonista. Dentro da narrativa do filme, não tem muito sentido a não ser um texto solto, diferente de outros filmes da parceria entre diretor e ator que a comédia realmente era integrada e fazia realmente mais sentido dentro da trama. Você vai se desprendendo com essas desconexões, acabando deixando de lado aquela inspiração que a obra mostrou no começo, infelizmente.
‘C.I.C. – Central de Inteligência Cearense’ até começa bem e tem uma base boa, com uma ideia cômica interessante, mas que acaba se esbarrando em uma narrativa pouco producente, com muita pouca conexão na decupagem e pouca inspiração para os textos.