Talvez o principal problema de Capitão América: Admirável Mundo Novo seja deixar seu próprio protagonista, Sam Wilson, de lado durante boa parte da história. É uma narrativa que se aproveita de acontecimentos de um dos primeiros filmes do MCU, O Incrível Hulk, e isso meio que toma conta do filme todo, com a presença do general Ross e o surgimento de um vilão ligado diretamente com o gigante esmeralda.
Aqui a produção emula uma estrutura parecida com o filme anterior do herói, com tramas sendo cruzadas e acontecimentos manipulados por uma força maior escondida de tudo, porém o filme não consegue transparecer sua emoção de forma convincente.
E o personagem que consegue causar sentimentos diversos ao longo do filme é justamente o General Ross, que rouba a cena. E a figura que vai ser mais desafiada ao longo da trama e combinando a boa atuação do ator e seu carisma, ele acaba sendo o centro das atenções. Não que Anthony Mackie não tenha carisma, ele tem bastante, mas a carga dramática do filme e todo o lance envolvendo sua preocupação em continuar o legado de Steve Rogers não soa convincente, talvez por falta de emoção ou dificuldade do texto.
Fato é que o longa exibe muita explicação, um problema já mencionado diversas vezes nesse universo, a necessidade de explicar as coisas e não conseguir desafiar seus atores para emular isso por meio de suas feições. Fora as explicações diversas para o público a todo momento saber exatamente onde a história está e o que aconteceu.
O detalhe do roteiro ter sido escritor por cinco pessoas, inclusive o diretor, exemplifica muito dessa salada de perdidos que o filme tem. Em apenas alguns momentos relembrando que o protagonista é o Capitão América e sabermos suas aflições e anseios por conta do manto, mas a parte emocional mesmo ficando carregada com o general, e toda sua dualidade, e em alguns momentos beirando um ar maligno, mas também seu lado afetivo de saudades da filha e arrependimentos do passado. O próprio ator, Harrison Ford, traz alguns trejeitos e toques na voz para aumentar sua tensão.
E a replicação de uma narrativa já usada em longas anteriores do universo de um vilão orquestrando tudo não tem tanta força assim. E o filme orquestra um suspense envolvendo a transformação do general Ross como se o público já não soubesse do Hulk vermelho nos materiais divulgados do filme. Apesar disso, a tensão envolvendo essa fúria do personagem é bem demonstrada por conta da direção. Enquanto as cenas de ação seguem ainda aquela lógica bizarra de não serem dirigidas pelo diretor principal, existem momentos fechados que transparecem essa emulação de um thriller político e todo essa correria por um risco de estourar uma terceira guerra mundial.
Enquanto as cenas de ação dos filmes anteriores do herói, principalmente o soldado invernal, ganhavam bastante força pela boa coreografia e foco cru em sua ação, aqui fica bastante pelo genérico mesmo. Apesar de se utilizar de todo o equipamento do personagem, seja sua asa, movimentação, intercalar entre voo e porrada, é tudo muito cortado e genérico, não é possível destacar uma cena sequer ou inesquecível igual os filmes anteriores. E a batalha final deixa claro essa bagunça envolvendo Marvel, CGI e a falta de polimento com seus cenários de batalha.
Capitão América: Admirável Mundo Novo é um material ok com o universo da Marvel. Ele traz essa nova tentativa de thriller político, porém peca ao não saber exatamente o que busca. Ele consegue sustentar bastante coisa por conta do talento e carisma de seus protagonistas. Ele soa mais interessante comparado com tudo que vem saído ultimamente, mas não se distância de algo medíocre do apresentado.
