seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Casal de Fachada (The Valet – 2022)

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Desde sua estreia no Brasil e resto da América Latina, o Star Plus se encontra perdido num tiroteio da “Guerra dos Streamings” que vem acontecendo nos últimos anos. O serviço se propôs a ser a alternativa para as demais produções pertencentes à Disney, já que o Disney+ se apresenta como um lugar para as propriedades intelectuais mais rentáveis e “family friendly” da companhia. Isso resulta que o streaming secundário disponha um catálogo que ao mesmo tempo que se demonstra diverso, também é confuso. É nesse contexto que recebemos Casal de Fachada (The Valet), uma comédia romântica dirigida por Richard Wong.


Lançado em 2022, o filme é uma refilmagem de Contratado para Amar (2006), mas, além da premissa, a nova versão não busca fidelidade à produção original. Nas duas tramas acompanhamos um manobrista que recebe a proposta de fingir namorar com uma mulher famosa que busca despistar paparazzis. Ao contar a história na década atual, o diretor demonstra querer entregar uma identidade própria ao projeto, seguindo a onda de filmes latinocentrados, o personagem principal é Antonio (Eugenio Derbez) um homem latino de 47 anos levando uma vida simples como manobrista. Do outro lado, temos Olivia (Samara Weaving), uma atriz Hollywoodiana famosa internacionalmente.


Quando se pensa em comédia romântica, a expectativa geral se leva à busca por clichês, com o casal se conhecendo e se apaixonando, logo depois um deles comete um erro para gerar conflito e no fim os dois se reconciliam. A história na visão de Wong tenta (guarde bem essa palavra) entregar uma identidade que vai além das batidas narrativas de uma comédia romântica, desde nos apresentando mais a fundo o núcleo de convivência do personagem de Derbez, que conta com papéis que entregam vida e um calor amoroso, até pincelando questões reais de bairros latinos nos Estados Unidos como gentrificação. E este é o maior ponto positivo da obra: a duração de 2h se torna quase perdoável quando conhecemos mais dos personagens que compõem o universo que o filme nos convida a conhecer.

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Apesar do carisma latino e personagens com personalidades e motivações bem estabelecidas, a narrativa perde sua força na trama dos dois protagonistas. Weaving, no papel de Olívia, consegue entregar bem a performance de uma atriz que apesar de seu sucesso é infeliz na etapa da vida que se encontra, sempre procurando alternativas para viver um romance fictício dos filmes que ela mesma participa. Isso se mostra na sua primeira cena com seu par romântico, o bilionário Vincent Royce, vivido por Max Greenfield. Logo após a introdução da atriz vivendo uma personagem feliz no papel de um filme, a narrativa nos leva para um encontro secreto com seu amante, lá temos a perspectiva de como Olivia apesar de estar infeliz, se agarra na fantasia de que o seu parceiro é o homem dos sonhos para ela.


Em paralelo, acompanhamos a vida de Antonio, que apesar dos esforços tanto da direção quanto do roteiro, a atuação de Eugenio Derbez, que também assina a produção, não consegue passar o carisma simpático que o personagem tenta ter. E então começam as tentativas falhas do filme, todos os personagens do núcleo do manobrista conseguem apresentar um carisma e personalidade maiores que o próprio. Não é necessário apontar o porquê de figurantes que aparecem em uma única cena conseguem ser mais interessantes que o protagonista que leva o nome do filme.


O que Derbez nos apresenta na sua atuação é um personagem preso numa fórmula de produção que deve ser seguida a todo custo, mesmo se isso signifique sacrificar toda a personalidade e carisma do seu protagonista. As decisões do personagem não demonstram coerência nem sentido com o pouco que conhecemos dele, a narrativa se mostra mais interessada em nos fazer conhecer a personagem de Weaving. Durante as interações dos dois protagonistas, conhecemos mais da história e emocional de Olivia, ao mesmo tempo que ela evolui como pessoa a ponto de sentir maior segurança e genuína felicidade na família latina de Antonio. Seria tudo bem acompanharmos a profundidade de apenas um lado da história se o filme se passasse unicamente na perspectiva da atriz, porém o manobrista é uma peça central e sua perspectiva é algo para nos fazer empatizar com sua vida.


Casal de Fachada é um filme com o charme e potencial de se tornar uma obra marcante para 2022, mas ao se encontrar obrigada a sacrificar parte de sua identidade para seguir batidas narrativas famosas no seu gênero, nos deparamos com um mundo que gostaríamos de conhecer mais, com uma história que não encontra qualquer eco emocional verdadeiro.

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