qua, 19 fevereiro 2025

Crítica | Cassandra

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A minissérie inglesa de antologia Black Mirror surgiu em 2011, apresentando contos de ficção científica que refletem o lado negro da tecnologia, mostrando que nem toda novidade traz só benefícios. Em 2025, estreia na Netflix a minissérie Cassandra, produção alemã que parece um episódio especial que saiu direto da mente dos criadores do show inglês.

Em Cassandra acompanhamos os membros da família Prill, que se mudam para um casarão abandonado no interior da Alemanha após passar por uma grande perda. O novo local, ao invés de ser uma mansão antiquada é bastante moderno: trata-se da primeira casa inteligente da Alemanha, criada na década de 1970. É nela que reside Cassandra, a assistente virtual inativa há 5 décadas. Ela abre e fecha portas, acorda a casa inteira com música e até liga para a emergência se for preciso. Agora, ela recebe uma nova chance depois da morte misteriosa dos antigos donos da casa. Mas por que ela ficou tanto tempo sem utilização se era realmente tão à frente do seu tempo?

A minissérie roteirizada e dirigida por Benjamin Gutsche (Arthur’s Law) constrói uma atmosfera que gradativamente vai se transformando e assustando o espectador, não pela violência (ela existe em momentos pontuais), mas pela manipulação que a assistente virtual faz a todo momento com os residentes da casa, transformando com o tempo a situação em uma narrativa envolvente, imprevisível e repleta de tensão, além de muitos mistérios.

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As idas e vindas na cronologia da história, servem para justificar os motivos da IA atuar daquele modo e entender que a situação em que a família atual se encontra foi moldada e construída muito tempo antes, transformando eles em verdadeiras vítimas do acaso. Na primeira metade da minissérie Gutsche mistura gêneros e temas, abordando relacionamento familiar, sexualidade, dependência da tecnologia, IA e outros assuntos que comparados com sua metade final são bem suaves, mas todos eles são bem desenvolvidos. Talvez apenas no final as coisas soem forçadas demais e apressadas, mas nada que tire o brilho da produção.

Quando a história foca nos anos 70, vemos cenários e figurinos perfeitos, o design de produção da casa e da assistente virtual são incríveis. Tudo relacionado a década de 70 é reproduzido com atenção aos detalhes. A fotografia é outro destaque e abusa dos tons pasteis para criar uma atmosfera saudosista. Por fim, a trilha sonora é outro ingrediente a mais e agrega bastante as cenas, nas quais são encaixadas, dando um frio na espinha e autenticidade ao que vemos.

Após a primeira metade a produção muda o foco e começa a inserir elementos e situações mais pesadas que levam a desfechos perturbadores que vão deixar o espectador vidrado na tela, a tensão é crescente e o desenrolar da história é perturbador. O elenco é ótimo, mas o show se desenrola melhor com a família (elenco) dos anos 70. Porém, é inegável que Lavinia Wilson (Quando a Vida Acontece) rouba a atenção quando surge em tela! Ela é assustadora tanto como humana (1970), tanto como androide (2020) e merece reconhecimento por sua atuação.

Techno-horror, mistérios, abordagem de temas contemporâneos sensíveis e uma trama intrincada fazem de Cassandra uma minissérie muito a frente de Black Mirror tanto narrativamente, como em conteúdo. Produção imperdível! Principalmente para aqueles que gostam de ver o que o futuro pode nos reservar de mais terrível e cruel.

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Hiccaro Rodrigues
Hiccaro Rodrigueshttps://estacaonerd.com
Eu ia falar um monte de coisa aqui sobre mim, mas melhor não pois eu gosto de mistérios. Contato: [email protected]
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