sex, 26 abril 2024

Crítica | Cavaleiro da Lua

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Após uma história de quase 50 anos a partir de sua primeira aparição (ainda como “vilão”) nas páginas de Werewolf by night #32 no ano de 1975, o Cavaleiro da Lua tem alcançado cada vez mais entre os leitores o estado de personagem cult graças a uma série de fases muito bem recebidas pela crítica, apesar do pouco alarde, nos anos recentes. Um personagem que muitas vezes é resumido a um “Batman da Marvel” mas basta apenas um pouco de contato com o material original para se entender que existe muito mais que isso para o punho de Khonshu e, sabendo disso, era questão de tempo até Kevin Feige adicioná-lo ao universo cinematográfico marvel.

Cavaleiro da Lua (2022) acompanha Steven Grant (Oscar Isaac), um vendedor de souvenirs em um museu de Londres que sofre com constantes distúrbios de sono até perceber que talvez exista muito mais nas suas atividades noturnas inconscientes do que ele poderia imaginar. A série parte da premissa de que está lidando com um personagem desconhecido para construir uma aura de mistério em torno da situação de Steven e isso é um dos seus acertos pois Isaac entrega em sua atuação toda a angústia e desnorteamento necessários para carregar o interesse do espectador pela trama. O protagonista é amável e ingênuo o que contrasta com a violência e seriedade de Marc, sua recém descoberta personalidade alternativa, fora a presença do jamais satisfeito deus Khonshu em sua mente e a série brinca com esse contraste ao flertar com estéticas de horror e suspense na busca de Steven por respostas. 

O seriado acerta também ao conter sua trama apenas no que está sendo apresentado episódio a episódio sem depender de qualquer referência externa para entendimento da narrativa. Isso não só traz um engajamento maior pelo que está sendo contado enquanto arco de personagem, sem uma espetacularização de participações especiais em detrimento da trama, mas também permite uma melhor exploração da instabilidade psicológica de Steven ao tornar o que ele vê pouco confiável já que nada disso se apoia em informações “concretas” do MCU.

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A presença da personagem Layla (May Calamawy), que em primeiro momento surge apenas como um interesse amoroso do passado, se prova importante ao se tornar um ponto de mediação entre as personalidades conflitantes do protagonista além de ser responsável por fazer a trama andar em diversos momentos uma vez que Steven se recusa em boa parte da série a deixar sua outra versão tomar as rédeas o que gera momentos de certa frustração e beiram o ponto de arrastar a narrativa que se foca muito na parte cômica da presença de um mero vendedor britânico em situações de natureza aventuresca e sobrenatural. Layla tem momentos de protagonismo inesperados ao longo da história e chega ao final da trama com personalidade e bem estabelecida enquanto personagem desse canto particular do mundo ao qual estamos sendo apresentados.   

Já o antagonista principal da série: Arthur Harrow (Ethan Hawke) chega como uma figura solene, de liderança e extrema serenidade nos primeiros episódios e poderia servir enquanto forte contraponto para nosso herói. O foco e a certeza de Harrow, na tese, refletem tudo o que Steven e Marc em suas constantes incertezas e tormentos não são porém o embate dos dois se torna totalmente desequilibrado uma vez que Harrow é desenvolvido muito mais por uma série de diálogos expositivos sobre sofrimentos passados do que efetivamente trabalhado ao longo do seriado o que o torna ao final apenas uma força oposta a ser batida enfraquecendo uma eventual reflexão que o seriado poderia fazer sobre as motivações do antagonista. A questão envolvendo punição, livre-arbítrio e vingança que poderia ser um elemento que fortaleceria todo o discurso trabalhado na série é diluída.

Cavaleiro da Lua não deixa de ser também uma série de herói quando se lembra. Existem aqui cenas de ação, perseguições, poses dramáticas, entre outros elementos mas esses elementos se tornam totalmente secundários uma vez que a trama parece tratar esse lado como algo restrito e pouco apelativo (muito graças a uma estética por vezes plastificada da Marvel Studios onde a ação tem pouco impacto e a direção não ousa) exceto em seu episódio final que decide explorar o potencial imagético do punho de Khonshu e busca entregar um clímax pelo menos quanto ao embate físico dos personagens principais que é muito vistoso mas parece destoar de tudo que foi mostrado até aqui. 

A série ao final parece estar mais interessada em concluir o embate de personalidades conflitantes do protagonista e trazer de uma questão de saúde mental para a discussão do que necessariamente elaborar sobre todos os assuntos propostos pela trama ao longo de seus seis episódios e isso joga contra sua proposta inicial de minissérie. É sabido que os personagens aqui provavelmente cruzarão com outras produções futuramente, logo não chega a ser um problema que o final prepare os personagens para futuras aventuras mas o sentimento que resta ao subirem os créditos finais do último episódio é de que existia um potencial muito maior a ser explorado nesse microcosmo.

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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