qui, 25 abril 2024

Crítica | Céu Vermelho-Sangue

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Assim como a Disney com os filmes do Marvel Studios, a Netflix é conhecida por implementar um formato enlatado em suas produções visando alcançar o público por meio de algoritmos pré-selecionados. Independente do sucesso que atinge, o lado formulaico adquire maior peso durante a execução e fica evidente como e por onde a obra se guia. Céu Vermelho Sangue é um daqueles exemplos que mostram o quanto essa interferência causa resultados negativos.

“Depois de um grupo terrorista sequestrar um avião, uma mulher com uma doença misteriosa precisa revelar um segredo terrível para salvar seu filho”. Em tempos de superexposição ancorados em uma tentativa de atratividade, o tal mistério que conduz a sinopse tem sua utilidade, já que a própria Netflix se encarrega de revelar do que se trata o filme logo em sua tela inicial. O curioso é que o mesmo parece não compartilhar do pensamento mercadológico e insiste em uma apresentação misteriosa de Nadja (Peri Baumeister) e de seu filho Elias (Carl Anton Koch).

Netflix/ Divulgação

Existe toda uma construção pré-evento onde somos introduzidos a uma personagem que está passando por um período de tratamento de leucemia. Toda essa ideia de tratar Nadja como uma pessoa doente é algo que fica pelo caminho. Afinal, a estratégia de publicidade expõe como um filme de vampiro. Seria interessante se, mesmo com essa quebra de surpresa, seguisse por um caminho de explorar essa situação de uma vampira presa com terroristas como algo relacionado ao seu controle (simulando um personagem do RPG Vampiro: A Máscara), mas acaba se tornando um material apoiado em violência gráfica e sentimentalismo barato.

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Não apenas deixa de explorar esse lado fantasioso como uma condição a ser encarada, como também utiliza do mesmo para ditar quando sua personagem se transforma em um ser ameaçador. Hora sua vontade está implacável e incontrolável, hora está agindo normal e se comunicando dentro da cabine de comando. O que antes era um argumento, agora vira uma desculpa para validar o violento banho de sangue. Violência essa que surge de forma extremamente aleatória, com direito a um dos terroristas exibindo uma performance “coringesca” exagerada – apenas para mostrar que é um filme de censura alta logo no início.

Netflix/ Divulgação

A relação de Nadja com seu filho Elias não existe como elemento emocional. A tentativa de demonstrar algum tipo de laço afetivo é completamente nula e as diversas vezes que força algum desses momentos condiciona para uma irritação constante. Mãe e filho funcionam como uma associação superficial para retratar o lado humano de Nadja. Ainda no quesito emocional, flashbacks são inseridos no meio da narrativa de forma totalmente arbitrária para coagir ao espectador a criar algum tipo de empatia com a personagem e sua condição vampírica. Mas, de novo, tudo é mostrado da maneira mais genérica possível, apelando para um “pseudo-horror” pouco sugestivo e automatizado.

O diretor Peter Thorwarth pouco inventa com a situação e aborda o contexto de um ataque terrorista como algo banal. Não só demonstra uma total falta de criatividade na hora de aproveitar-se do espaço tenso e claustrofóbico para criar uma atmosfera interessante, como também tem o desserviço de abordar questões importantes envolvendo mulçumanos e terrorismo na Europa de forma a flertar com o mau caratismo .

As inspirações da Marvel parecem não ter ficado só na fórmula e o filme abandona o suspense para receber ares de um embate heroico – com direito a vilão maníaco e luta enquanto o avião sofre despressurização. Se existe algum tipo de algoritmo que relaciona as produções da gigante vermelha com o que tem de mais chamativo para o público, Céu Vermelho Sangue saiu diretamente de lá.      

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Gabriel Lunahttp://estacaonerd.com
Jornalista que se aventura no mundo da crítica de cinema. Gosto de café e filme em preto e branco.
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