Na segunda parte da 6ª Temporada de Cobra Kai, a equipe do dojo Miyagi-Do, comandada por Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka), enfrenta novos desafios e antigos rivais na busca pela vitória no torneio mundial Sekai Taikai. Mas o maior desafio acaba sendo manter a união da equipe enquanto rivalidades internas vêm à tona.
Há produções que nos fazem questionar a real necessidade de tamanha investida por parte da produção em um conteúdo escasso e repetitivo, que necessita arduamente de um irritante fator nostalgia (que outrora foi seu maior aliado, uma vez bem aplicado e aproveitado) na esperança de funcionar tanto para o antigo quanto para o novo público. Cobra Kai vem descontentando alguns fãs dos primeiros anos da série e da trilogia Karatê Kid desde a sua quinta temporada, que ainda contou com artifícios interessantes como o ressurgimento do vilão Terry Silver (Thomas Ian Griffith), devido a carência de originalidade. Existe uma certa investida inventiva nesta segunda parte da problemática 6ª Temporada da série, que somente surte efeitos para dar deixa para sua derradeira parte, que será lançada em 2025. Tal “reconexão” com a criatividade amalgamada ao saudosismo até consegue dar um ar mais agradável à aventura, mas é inevitável a estranheza sentida por tantas subtramas que está lá para visivelmente preencher lacunas e estender a temporada.
O excesso de histórias paralelas e o constante apelo a um eterno “vem aí”, que serve apenas para preparar o tatame para um desfecho épico há muito prometido, e que comprometerá toda a existência da série caso não entregue o realmente vem prometendo, continua sendo as maiores inimigas de Daniel San, Johnny Lawrence e companhia. Dramas adolescentes envolvendo relacionamentos mal resolvidos, como o de Robby (Tanner Buchanan) e Tory (Peyton List), e inseguranças que prendem personagens a uma personalidade insossa, como Samantha LaRusso (Mary Mouser), continuam influenciando na qualidade narrativa da produção. O mal aproveitamento de bons personagens torna a acontecer nesta 6ª temporada, como é o caso de Chozen (Yuji Okomoto), insistentemente confundido com um alívio cômico que não funciona, que piora quando seu caminho se cruza com a antagonista Kim Da-Eun (Alicia Hannah-Kim) para a formação de um par romântico inusitado, uma das piores decisões desse retorno de temporada, além de uma das maiores sub utilizações de bons personagens. Outro que fica de escanteio é o próprio protagonista Miguel, vivido por Xolo Maridueña, tendo somente um breve e bonito momento sentimental com o sensei Lawrence (Zabka) e pouco destaque após isso.
A segunda parte do sexto ano de Cobra Kai utiliza do retorno de Terry Silver e todo o mistério envolvendo o passado sombrio de Sr. Myiagi como um escape das temáticas adolescente e familiar. Mesmo repetivo e pouco inspirado, o regresso do vilão de Karatê Kid 3 chega a ser um alívio, já que traz consigo um perigo realmente aterrador, uma vez que já nos foi provado o quão ameaçador é o antagonista de Thomas Ian Grifith, sendo até mais que John Kreese, de Martin Kove, visivelmente cansado com a mesma batidade de tecla de seu personagem. Já as revelações sobre o jovem Myiagi, que conta com uma bela e surpreendente participação especial de um Pat Morita construído digitalmente, serve para dismistificar o personagem e fazer com que Daniel LaRusso (Macchio) encontre novos e verdadeiros conflitos.
Novamente aderindo o diálogo como algo inexistente, todo o conflito parece se resolver na base da pancadaria. Se, ao menos, as sequências de luta em Cobra Kai fossem bem dirigidas, teríamos um bom deleite visual. Porém, as cenas aderem os mesmos movimentos de câmera, os mesmos enquadramentos e, pasmem, o mesmo sentido de existência. Repletas de cortes e câmeras sem estabilização, as lutas de Cobra Kai chegam a ser cômicas, tirando o conflito do último episódio desta penúltima parte, que realmente é possível notar um trabalho minucioso.
A segunda parte da 6ª e última temporada de Cobra Kai tem momentos finais interessantes que nos fazem torcer para que suas consequências sejam levadas a sério a ponto de realmente mudar o tom da produção em seu desfecho. Pena que essa melhorada repentina tenha vindo tão tarde.