A autoconsciência fílmica não é uma novidade que surgiu apenas com Deadpool, por exemplo, mas é um fato que nos últimos anos esse recurso vem sendo explorado de diversas maneiras. Isso inclui desde a abordagem direta como no filme mencionado até outros métodos narrativos, que destacam a arte como uma representação, acurada ou desconforme, da realidade.. Esse movimento ocorre em um período histórico em que até mesmo a forma de fazer filmes é objeto de questionamento, frequentemente abordando questões morais e políticas. À medida que essas questões são levantadas dentro da indústria, as respostas podem surgir não apenas em forma de notas em redes sociais, mas também, porque não dizer, por meio de filmes.
Essa foi a maneira que o capitalismo encontrou para, de uma forma ou de outra, mostrar-se como alguém que compreende o que lhe é questionado, enquanto passa a controlar a narrativa dentro dos seus próprios moldes de imagem. Essa introdução prolongada, à primeira vista, pode não parecer diretamente relacionada a Como Vender a Lua (2024, dir. Greg Berlanti), mas está fundamentalmente entrelaçada com o filme. Em termos gerais, o filme estrelado por Scarlett Johansson e Channing Tatum narra a história de Kelly Jones (Johansson), uma publicitária contratada para restaurar a imagem pública da NASA durante a corrida espacial para a Lua. Temendo um fracasso no pouso lunar, ela é orientada a encenar um pouso na Lua falso como um plano B.
Apenas através dessa breve sinopse, percebe-se que a ideia de uma produção falsa da viagem à Lua confronta as inúmeras teorias da conspiração e, como era de se esperar, brinca com elas. Afinal, seria concebível que uma nação como os Estados Unidos simulasse a chegada à Lua? É claro que essa ironia é explorada através da montagem, jogando com as expectativas, mas desde o início o desfecho é evidente: as imagens são reais, embora haja um trabalho publicitário por trás para torná-las possíveis.
O filme consegue explorar com bom humor algumas brincadeiras sobre as capacidades da publicidade em construir um produto – seja humano ou não – e, consequentemente, a ideia de nação, algo profundamente valorizado pelos Estados Unidos. No entanto, enquanto esse jogo funciona como uma ferramenta humorística, não consegue ocultar completamente que suas críticas são parte integrante do mesmo formato de indústria. Embora a autoconsciência seja eficaz para envolver o espectador através da comédia, ao mesmo tempo confina o produto a um molde hollywoodiano bem definido.
Em outros termos, encontrando sua força na montagem e nos aspectos melodramáticos – estes, repito sempre, de forma alguma pejorativos – Como Vender a Lua é um filme que consegue funcionar pelo seu bom acabamento em imagem e com o elenco que está bem dentro do esperado para uma produção do gênero, além de revestir-se de uma carapuça que o coloca dentro de uma redoma bem particular de projetos recentes.
Essa consciência de si como produto, cujo êxito recente se deu na Barbie de Greta Gerwig, parece fomentar, dentro dos serviços de streaming particularmente, uma janela muito específica de uma suposta autocrítica. No entanto, na realidade, esses produtos ainda se conformam aos moldes que a indústria considera aceitáveis como um ponto de flexão, em uma política que cada vez mais enfatiza não apenas questões identitárias, mas também a própria percepção do que é genuíno ou fabricado – e como isso é comercializado. Nesse sentido, o filme de Berlanti segue a fórmula hollywoodiana, tanto para o bem quanto para o mal.