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    Crítica | Contra o Mundo

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    Uma crítica cinematográfica se desenvolve geralmente em torno de um ponto que agrada ou incomoda o autor, com o objetivo de iniciar uma discussão estética sobre a forma fílmica. Existem projetos que formam um continuum de pontos que se acumulam, seja de forma positiva ou negativa. No entanto, há filmes, como é o caso de Contra o Mundo (2024), que começam e terminam sem oferecer qualquer tipo de experiência ao espectador. Em uma análise simplista, é um filme que facilmente seria rotulado como “apenas mais um”. A partir dessa constatação, surgem possibilidades de observação sobre essa característica, pois escrever – ou falar – sobre um projeto cinematográfico que não adiciona muito ao que se propõe é tão ou mais problemático do que indicar abordagens que teriam ou não funcionado. Portanto, este texto, que será breve, é um exercício de reflexão crítica sobre um longa-metragem que não oferece nada de substancial.

    Protagonizado por Bill Skarsgård, Contra o Mundo acompanha Garoto (Skarsgard), que jura vingança depois que sua família é assassinada por Hilda Van Der Koy (Famke Janssen), a matriarca de uma dinastia pós-apocalíptica totalitária que deixou o menino órfão, surdo e sem voz. Guiado por sua voz interior, que ele adotou de seu videogame favorito, Garoto treina com um misterioso Xamã (Yayan Ruhian) para se tornar uma máquina de morte. O filme se junta a outros que, nos últimos anos, optaram por uma abordagem ficcional da ascensão totalitária em diversos países, mas neste caso o comentário político é diluído em meio a frases humorísticas e brincadeiras que, se funcionam inicialmente, se desgastam rapidamente. A tal voz interior é quem instiga o fraseado bem-humorado que logo se torna uma muleta de alívio cômico, como se quebrar a quarta parede fosse algo inovador e não uma aposta segura em um gênero fílmico que parece ter em “Deadpool” sua principal inspiração.

    Esse é, aliás, um dos problemas do filme e da sua platitude em relação ao que se oferece: tudo o que está dentro dele, desde narrativamente quanto esteticamente, já foi feito de melhor forma em seus precursores. Ou seja, quando, no meio de uma luta, há alguma brincadeira ou morte inesperada, filmes como o protagonizado por Ryan Reynolds, mencionado anteriormente, obteve algum sucesso. As sequências de ação, por sua vez, gameficadas, já foram melhor trabalhadas em projetos como John Wick 4: Baba Yaga, por exemplo. Moritz Mohr, no que lhe concerne, não mantém o mesmo domínio durante as diversas sequências em que o sangue jorra. Enquanto em alguns momentos ele consegue coreografar bem os momentos – a primeira sequência na entrada da Mansão dos Von Der Koy, para mencionar – em outros, ele não mantém a mesma habilidade, esticando o ato até a exaustão, seja dos personagens ou, principalmente, do espectador.

    É claro que nenhum filme precisa reinventar a roda, mas um filme como Contra o Mundo parece não saber bem onde se encontrar e, na falta disso, aposta em um humor infantil e no drama familiar que, pela forma que se é trabalhado, também não empolga. Logo, o plot twist central, que deveria servir como uma surpresa, funciona mais como uma constatação, não gerando o impacto emocional ou narrativo esperado. Chega-se a uma conclusão óbvia: o longa-metragem tem diversos pontos espalhados em sua feitura que poderiam servir de estímulo ou ponto para sua discussão crítica, mas com seu automatismo em suas escolhas, soa como um filme já feito em algum momento. Construir um texto crítico a partir da noção de que determinado longa realiza algo, mas que já foi feito de forma mais interessante anteriormente não só é frustrante a quem escreve quanto para quem lê, além de ser um exercício vazio, já que um filme deve ser analisado pelo que ele oferece, não pelo que ele poderia ser. Contra o Mundo, então, termina como começou: inofensivo e sem entusiasmo. Infelizmente.

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