qua, 24 abril 2024

Crítica | Corpolítica

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Desde 2016 com o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, o país enfrenta uma onda de ataques conservadores de extrema direita que ganhou ainda mais força com a prisão de Lula – à época ex-presidente. Esse panorama culminou na eleição de Jair Bolsonaro para presidente da república, uma figura abertamente contra os direitos da população LGBTQIA+. Durante esse período, o discurso fundamentalista ganhou protagonismo dentro dos espaços políticos e a pauta da diversidade foi escanteada, marginalizando cada vez mais as minorias políticas, principalmente em razão de identidade de gênero, cor e sexualidade.


A pandemia da COVID-19 serviu para expor a falha da direita em cumprir suas promessas, ao mesmo tempo em que Lula foi absolvido pela justiça. A partir desse contexto, grupos militantes de esquerda voltam a ascensão, pregando a importância e necessidade de mais diversidade no âmbito político.


O documentário “Corpolítica” retrata justamente esse período, com foco nas eleições estaduais de 2020 nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A narrativa é sabiamente centrada nos candidatos LGBTQIA+ que disputaram os cargos de deputado estadual e vereador. Permitir que a história seja contada pelo ponto de vista dos oprimidos é o principal triunfo desse projeto e destaca sua relevância social como arte de resistência.

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Outro acerto é a forma com a qual o cineasta, Pedro Henrique França, lida com os relatos apresentados, por nunca se esquivar dos temas sensíveis abordados, escancarando as dificuldades enfrentadas por aqueles indivíduos, sem nunca cair no mau gosto de se tornar um torture porn. Há um comprometimento em expor as lutas da comunidade para mostrar sua resiliência, sem, contudo, revitimiza-la.
Uma escolha que poderia levantar controvérsias é a de ouvir também o contraponto trazido por políticos como Fernando Holiday e Thammy Miranda, que apesar de pertencerem a comunidade, se orgulham em dizer que não “levantam bandeiras” e não entendem a relevância da representatividade. Todavia, uma vez mais o diretor tem sensibilidade suficiente para abordar o tema, e prontamente apresenta pontos de vista que rebatem e rechaçam essa ideia.


Mesmo com apenas 95 minutos, o projeto consegue equilibrar bem a divisão do tempo de tela para ouvir o máximo de seus protagonistas, por outro lado ao tentar abordar tantos assuntos em um curto período de tempo, nem sempre consegue sair do nível superficial de discussão. Como obra de documentário, o filme também falha em fugir das convenções do gênero, optando pelo formato tradicional, que por vezes parece batido.


Apesar desses pequenos problemas de estrutura a experiência do filme, em geral, consegue ser proveitosa e educativa.

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Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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