É de se imaginar que um filme que possui Emily Watson e Paul Mescal em seu elenco é no mínimo interessante, e de fato “Criaturas do Senhor” possui uma premissa chamativa quanto seu tema e estúdio responsável, no caso a queridinha A24. Nota- se uma mistura interessante entre drama e suspense, criando uma atmosfera muito parecida com o terror, mas se construindo mais no mistério. E aí que nasce o principal problema do filme: a distância com seu telespectador.
Em uma vila pacata e sombria de pescadores da Irlanda, uma mãe recebe o filho depois de 7 anos fora e os dois vivem uma relação conturbada e cheia de segredos. Tudo está em jogo e ela terá que decidir se o protegerá contra as acusações que ele está recebendo, ou se agirá de acordo com seus valores e contará a verdade à polícia.
Essa distância com o telespectador é criada justamente nessa dificuldade de estabelecer sua narrativa. Em alguns momentos o filme parece querer abordar relações familiares, desde as dificuldades e escolhas acerca dessa relação entre mãe e filho. Mas em outros momentos ele busca ser uma história de paranoia e dúvida quanto alguns eventos ocorridos. É uma mistura que suas duas diretoras não conseguem administrar para causar o seu impacto devido, ainda mais se tratando de um assunto tão atual e infelizmente comum no cotidiano.
A sensação de desconforto durante a obra é uma das boas aplicações durante seus suspense, remetendo a elementos do terror. É muito bem sugerido quanto à rotina dos personagens, os cenários vazios e perigosos da região. É uma sensação de ter diversos tipos de histórias ali, apesar de ser um região extremamente pequena e simples.
Mas como citado antes, mesmo com bons elementos visuais e um elenco firme, onde temos Emily Watson sendo a melhor coisa durante a jornada, apresentando uma insegurança e dúvida bastante pertinente com sua personagem, e um Paul Mescal distante do talento apresentando em Aftersun, mas conseguindo entregar algo minimamente interessante. O filme simplesmente não consegue agarrar seu público e colocar o dedo na ferida, ele passa a sensação de desinteresse, e isso é bastante chato, ainda mais com um tema tão importante. É um mistério que precisa existir na obra, mas acaba mais evidenciando a falta de foco do que um suspense de fato.
Criaturas do Senhor apresenta uma premissa bastante interessante e real, mas conforme vamos avançando durante os conflitos tudo parece bastante passageiro com seu telespectador. O clima desconfortável é um grande acerto do filme e passa a sensação de um terror cotidiano, mas as soluções apresentadas são covardes e corridas quanto sua criação de expectativa. Uma pena ter caído na velha história do trailer ser melhor do que o filme em si.