seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Decisão de Partir

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Algo bastante recorrente da filmografia de Park Chan-wook é o seu trabalho em relação a obsessão, seja em questões mais vingativas ou até mesmo relações amorosas, as vezes tudo isso misturado, tal qual em longas como Oldboy e Lady vingança ou até mesmo em sua última produção lançada, A Criada. A mistura entre obsessões e uma pegada mais noir já foram bastante utilizadas com cineastas de mão cheia, seja nas absurdas e hipnotizantes histórias de Alfred Hitchcock ou nos thrillers sexuais de Paul Verhoeven. Agora, de forma um pouco mais contida, o diretor nos trás sua espécie de Vertigo, uma obra que brinca constantemente com nossas sensações e dúvidas.

Um homem morre depois de uma queda do topo de uma montanha. O detective Hae-Joon, da cidade de Busan, é chamado para investigar esta misteriosa morte. Durante a investigação, o detective conhece Seo-Era, viúva do homem morto, e trata-a como suspeita, Mas, devido à personalidade misteriosa desta mulher, começa a interessar-se cada vez mais por ela. À medida que o caso avança, as duas personagens tornam-se cada vez mais próximas, mas enquanto Seo-Era parece esconder as suas verdadeiras intenções e sentimentos, Hae-Joon, apesar de duvidar dela, mantém um desejo forte por aquela que é a sua principal suspeita

A questão imposta por Park aqui é essa relação bizarra entre esse policial e vítima/suspeita, é fato de que desde o primeiro olhar a tensão sexual entre os dois é instaurada. O filme não esconde o perigo que Seo-Era pode passar, desde o primeiro momento onde ao ouvir detalhes da causa da morte do marido, ela simplesmente dá uma baixa e rápida risada. Mas também é transmitido sua doçura e sensibilidade a se relacionar com o policial, esse romance proibido e totalmente longe de elementos mais óbvios como beijos ou sexo, existe mais aqui o diálogo, a conversa, a memória e obsessão que um tem pelo outro. Existe um diálogo logo no início do filme entre o policial Hae-jun e sua esposa, no qual eles discutem que estatisticamente casais que não tem sexo pelo menos uma vez por semana estão fadados ao divórcio. Mas justamente ocorre o contrário durante a história, o protagonista se apaixona pela viúva e vice versa, o que é mostrado aqui é a intenção, não existe um beijo direto ou muito menos o sexo. Um simples ato de afeto ou carinho é uma jornada para talvez acontecer entre esses dois.

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Uma das maiores particularidades é a puxada de freio que o diretor realiza aqui, aquela violência tradicional do mesmo é imposta de uma maneira “mais leve”, óbvio que existe cadáveres, investigações e crimes, acima de tudo é um ambiente hostil aqui, mas o clima fúnebre é misturado com esse tom de humor mais seco da obra, desde cortes bruscos ou situações que beiram o constrangimento, exemplo disso é a utilização do humor em situações de investigações ou até mesmo nos interrogatórios, quebrando um pouco a tensão exagerada que pode querer passar, uma ótima adição a versatilidade da obra.

É um longa elegante, ele trabalha lindamente suas imagens, seja na construção dos cenários, das frequentes investigações do detetive e suas leituras sobre os crimes, repassando e reimaginando situações, tudo isso mostrado para o telespectador. Mas enquanto existe esse termo poético em elaborar sua história de amor, o filme parece não existir uma justificativa clara para se sustentar inteiramente, seja na longa duração da obra, duas horas e vinte, ou mesmo sua mudança de caminho ao se aproximar do ato final. É um suspense que cresce e cresce e chega no seu ponto mais alto, mas depois disso acaba que ficando mais longo que o necessário e a conclusão não combina com o tom catártico que o diretor gostaria de passar.

Decisão de Partir é mais uma ótima adição a excelente filmografia do diretor Park Chan-wook, traz uma boa pedida para os mais apaixonados por esse tipo de gênero, traz algumas atualizações e marcas existentes da ótima experiência cinematográfica do cineasta. Ele não se destaca como outros filmes mais conhecidos e aclamados do autor, mas com certeza merece ser assistido. É um convite para essa jornada de paixão e obsessão através de metáforas e contemplações dessa curiosa relação.

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