O famoso Coming of Age busca mostrar ao telespectador essa transição do jovem para a vida adulta e quando é feito de uma maneira facilmente identificável, acaba se tornando global. Em Derrapada, vamos acompanhar aquela típica história de um jovem casal apaixonado que acabam tendo um filho de maneira totalmente irresponsável e precoce, mas tudo isso acompanhado de uma história criativa, estilosa e principalmente realista.
Em Derrapada, o jovem Samuca de apenas 17 anos de idade descobre que sua namorada, Alicia, está grávida. A notícia vem à tona em um momento não muito propício da vida do jovem, justamente quando ele achava que tudo estava correndo muito bem. Por ter cometido a mesma “derrapada” que sua mãe Melina vivenciou anos atrás, tendo um filho na mesma idade que ela o teve, Samuca se sente pressionado pelas novas responsabilidades e preocupações.
Talvez o assunto mais interessante e importante durante a obra seja justamente esse tratamento diante o “eterno” ciclo nas famílias brasileiras(e no resto do mundo) de jovens engravidando muito cedo, seja na adolescência ou nos primeiros períodos da fase jovem adulto. É um filme muito sincero quanto esse tema, o próprio protagonista, Samuca, levanta questões importantes quanto esses acontecimentos. O mesmo ocorreu com sua mãe quando jovem, teve um filho bastante cedo e assim mudou drasticamente sua vida. Tendo responsabilidades totalmente diferentes, ela tinha que se virar como podia para criar uma criança. Ou como Samuca resumiu a situação: “As pessoas sempre tropeçam no primeiro degrau, e passam o resto da vida consertando o erro que cometeu”.

É uma obra com extrema semelhança com a realidade, seja nos bons momentos em que passamos, desde a descoberta sexual, política, construindo amizades, amadurecendo. Mas também nos maus momentos, as decepções, dúvidas e incertezas quanto o futuro. É algo extremamente global, mas consegue criar sua própria identidade, usando esse pano de fundo carioca e diversos detalhes que ajudam a construir essa ambientação brasileira, desde pistas de skates até os cenários de das ocupações de escolas em 2016.
Em meio tudo isso, o filme cria uma identidade visual bastante favorável, obviamente existem as limitações de orçamento, mas o filme dribla isso até que bem, se utilizando da quebra da quarta parede de Samuca com o público, tornando seus problemas e reflexões mais próximos de nós. Além disso existem elementos visuais que na maior parte do tempo funcionam durante a obra, acrescentando para a imersão de descolado e jovem que busca passar, nada muito exagerado.
E além das história realista, acompanhamos atuações bastante palpáveis com a proposta do filme. O elenco mais jovem traz um leveza e inocência que combina com o período da vida em que estão, mas quando as coisas começam a apertar, existe muita emoção e desespero quanto a situação imposta e as consequências inevitáveis para toda a vida familiar. E quando ao elenco mais velho, destaque para a mãe de Samuca, Melina, traz uma combinação excelente entre maturidade e leveza, ela representa essa luta de diversos pais em tentar quebrar essa “maldição” de jovens pais não planejados, sempre buscando para seu filho o que ela não teve quando mais jovem.
Derrapada é um retrato realista e busca uma mistura de leveza e maturidade para contar sua história. E mesmo que não apresente um equilíbrio excelente quanto sua narrativa e tempo de tela, consegue relatar com criatividade essa inevitável realidade nas famílias brasileiras. No final das contas, o nosso próprio protagonista reflete: “Até parece um final feliz, não é mesmo?”, e essa frase resume muito bem a situação, entre tantas incertezas, medos e dificuldades de amadurecer, a vida vai continuar, seja por bem ou por mal. E durante a jornada terão diversos momentos difíceis na vida, mas também vão existir as alegrias e aprendizados necessários.