Desde os tempos de High School Musical, os trabalhos de Zac Efron não têm me impressionado. Sempre me pareceu um ator distante de seus personagens, seja nas caricaturas de suas comédias ou na intensidade de seus dramas; ele nunca me “convenceu” plenamente como ator. No entanto, seus últimos trabalhos têm chamado minha atenção e despertado curiosidade, especialmente suas incursões em papéis mais dramáticos. Gold, lançado em 2022, antecipou—ou melhor, revelou—todo o potencial artístico que Efron viria a demonstrar em The Iron Claw. Sob a direção de Anthony Hayes, Gold oferece um mergulho dramático mais profundo, permitindo que Efron realmente domine a tela. A atuação dele nesse filme marca uma mudança significativa, mostrando uma maturidade e uma intensidade que antes pareciam ausentes em sua carreira.
Diante disso, Deserto de Ouro parte de um pressuposto narrativo profundamente ansiógeno, que coloca o espectador em um estado contínuo de suspense e agonia. Anthony Hayes, que além de dirigir também atua no filme, utiliza uma fotografia dessaturada e opaca para criar uma atmosfera árida e desolada, acentuando o desconforto e a sensação de desespero. Essa escolha estética transforma a paisagem estéril em um reflexo do estado mental dos personagens, uma terra sem vida que espelha a degradação física e emocional a que eles são submetidos.
Gold é, portanto, uma experiência de desconforto desde os primeiros minutos. A fotografia acinzentada e descolorida contribui para um ambiente opressivo, enquanto a caracterização dos personagens—sempre sujos, suados e visivelmente desgastados pelo implacável passar do tempo—reforça a ideia de que eles estão à mercê de uma natureza impiedosa. A estética por vezes submerge o espectador na aridez física do deserto, que também busca explorar a aridez emocional e psicológica dos personagens.
É nessa caracterização que Zac Efron se revela uma verdadeira surpresa. Aliado a um excelente trabalho de maquiagem, seu rosto parece deteriorar gradualmente ao longo do filme, como se a cada minuto ele perdesse traços de humanidade e sanidade. A transformação é poderosa, com Efron transmitindo a degradação física e mental de seu personagem de maneira visceral. O efeito é amplificado pela presença constante das moscas que o cercam. A forma como Virgil (Zac Efron) permanece estoico diante desses insetos, que caminham livremente pelo seu rosto, boca e olhos, só intensifica o desconforto do espectador. Essa indiferença ao tormento físico sugere uma rendição silenciosa à desesperança, onde até os elementos mais repulsivos da natureza se tornam insignificantes diante do colapso interno que seu personagem enfrenta.
No entanto, Deserto de Ouro ocasionalmente sucumbe a certos “vícios” técnicos que “comprometem” seu impacto. Anthony Hayes, apesar de demonstrar um notável conhecimento para criar tensão e desconforto, às vezes se perde em uma decupagem que não explora plenamente o potencial da narrativa. Gold se deixa enredar por convenções formais que acabam por se distanciar da própria essência narrativa estabelecida anteriormente. O filme, que inicialmente prometia uma exploração única e visceral da luta pela sobrevivência, às vezes tropeça em escolhas estilísticas que parecem mais seguras e convencionais. É um mergulho repentino no genérico de um filme que tinha potencial para ser “único”.
Essa covardia da trucagem e da decupagem resultam em uma obra que, embora ainda que com ideias admiráveis e impactantes, ocasionalmente perde-se. Em vez de potencializar a atmosfera claustrofóbica e a tensão psicológica, o filme, em alguns momentos, opta por soluções mais fáceis e menos ousadas. Apesar disso, Deserto de Ouro ainda se destaca por sua ambição e por certos momentos de brilhantismo.