sex, 29 março 2024

Crítica | Dias Melhores

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Dias Melhores conta a história de Nian, uma adolescente vítima de bullying, que precisa resistir à hostilidade do ambiente escolar nos últimos meses antes de prestar vestibular. Para isso, conta com a ajuda de Beishan, um jovem, também marginalizado, que, após ser salvo por ela de um ataque de gangue rival, se torna seu amigo e segurança pessoal.

Se a familiaridade com tantas outras narrativas que já consumimos é clara, é porque esse apelo mais amplo é mesmo a intenção dos realizadores, já externada na mensagem de abertura do filme, cujo letreiro declara: “O bullying é um fenômeno universal. Pode estar ocorrendo à nossa volta. Esperamos que esse filme nos una contra o bullying, abraçando e fornecendo esperança àqueles necessitados.”.

De tema e conflitos facilmente relacionáveis, que despertam empatia sobre a protagonista e seu fiel escudeiro pela óbvia posição de vulnerabilidade que ocupam, é frustrante observar que Dias Melhores faz questão de guiar o olhar e os afetos do espectador de maneira também professoral. A cada vez que um novo personagem é apresentado, por exemplo, os elementos da linguagem – notadamente as atuações um pouco acima do tom e a trilha sonora intrusiva – são mobilizados para deixar muito claro o que você deve sentir por ele.

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Do mesmo modo, embora perpasse temas delicados e retrate situações extremas de maneira bastante direta – suicídio, estupro, exposição vexatória em redes sociais, vingança, entre outros –, incomoda a tendência do roteiro a rejeitar a ambiguidade dos seus personagens. Fica a sensação de que todas as vezes em que se ameaça pôr em xeque a nobreza das intenções e do agir daqueles por quem “devemos torcer”, o filme traz uma passagem de grande arroubo dramático – e são realmente muitas, o que vai diminuindo o impacto gerado – para nos fazer lembrar que, afinal, eles são os heróis da história.

Se é verdade que essas simplificações do texto limitam o potencial da obra, é de se apontar, por outro lado, o apuro estético do diretor Derek Tsang e a capacidade que ele apresenta para traduzir e amplificar visualmente as questões que mobilizam o drama.

O filme é profundamente marcado por um senso de opressão institucional projetado em suas locações. A fragilidade física da protagonista, muito bem defendida pela atriz Zhou Dongyu, é contraposta pela grandeza dos espaços que se apresentam para ela quase sempre de modo verticalizado, impositivo. Não são poucos os planos abertos das escadarias da escola e das faixas com palavras de ordem que impõem uma lógica de disciplina e desempenho. Os espaços são concebidos de modo a parecerem esmagar os que nele estão contidos, e é curioso notar que, na breve passagem em que o filme sugere uma postura mais ativa da protagonista, essa lógica se inverte, e a cidade surge como cenário de possibilidades a serem exploradas.

Na contramão disso, vê-se que a relação da protagonista com Beishan, com quem partilha um senso de marginalidade quanto a esse cenário que os sufoca, é marcada por uma utilização mais acolhedora dos espaços: o sofá, a cama que é enfim dividida e, talvez na mais bela cena do filme, os rostos cujos reflexos são sobrepostos num vidro.

Dias Melhores, enfim, ainda que vacile nessa fronteira entre o universal/familiar e o genérico/derivativo, dadas a falta de imaginação do seu argumento e a recusa a encampar a ambiguidade possibilitada pela trama, é um drama robusto, capaz de gerar efeitos dramáticos pela exploração estética das suas potencialidades. E cinema é, antes de qualquer coisa, sobre imagens, afinal.

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Felipe Lima
Felipe Limahttp://estacaonerd.com
Formado em Direito. Palpiteiro em Cinema.
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