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Início Críticas Crítica | Doctor Who – Especial de 60 anos

    Crítica | Doctor Who – Especial de 60 anos

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    A Cultura Pop nos últimos anos se encontra presa numa onda que não parece ter fim de “nostalgia”, produções trazendo de volta personagens legado dos originais, não para passarem a tocha para uma nova geração, e sim viverem novas aventuras na atualidade. Isso, claro, gera um certo desconforto em muitos espectadores que, por mais agradável que seja reencontrar rostos do passado, buscam encontrar novas experiências. Mesmo tendo alguns títulos que trabalham a nostalgia com maestria como Matrix 4, a norma é que tais produções se prendam tanto no passado que o retorno do velho não traz a mesma magia de antes. 

    No entanto, e se essa nostalgia trouxesse um significado maior que agradar os fãs da produção? E se o retorno de rostos conhecidos trouxesse junto com eles uma contemplação maior sobre a jornada desses personagens? Esse é o caso do Especial de 60 anos de Doctor Who, onde conta com o retorno de David Tennant e Catherine Tate nos papéis principais numa jornada de três episódios junto com o showrunner Russell T. Davies.

    Não é surpresa para quem conhece a série do Doutor que Doctor-Donna foi uma das duplas mais icônicas da série no século XXI. A química de irmandade entre Tate e Tennant era uma chama de carisma e emoção que condizia com o sucesso que fez. Então temos o retorno de ambos, quase 15 anos depois, para celebrar as seis décadas desde o primeiro episódio da série. 

    Doctor Who 60th Anniversary Specials,02-12-2023,Wild Blue Yonder,2,The Doctor (DAVID TENNANT), Donna Noble (CATHERINE TATE),BBC Studios 2023,James Pardon

    No primeiro episódio, já é notável uma faísca de esperança na série, após anos de uma produção com escolhas criativas duvidosas nas mãos de Chris Chibnall, RTD busca resgatar a fantasia em Doctor Who novamente. Trazendo um maravilhamento nas criaturas do espaço-tempo mas também a complexidade e tragédia do mesmo. A presença de Beep, o Meep, é uma adição agradável para o leque de vilões da série, para aqueles já familiarizados com o personagem através das histórias em quadrinhos, ver o vilão sendo feito com uma mistura charmosa de efeitos práticos e CGI foi um deleite.

    O segundo episódio do trio de especiais é definitivamente o melhor. A Imensidão Azul retorna às raízes de horror cósmico que já eram presentes na primeira fase de RTD. Aqui, o perigo está no desconhecido, uma aventura fechada que busca levar os personagens ao limite de suas capacidades sem nem mesmo saberem o que estão enfrentando. O horror do Doutor e da Donna sendo refletidos pelas “não-coisas” criam essas figuras bizarras e disformes no intuito de deixar o espectador na sensação de estranheza. 

    E enfim temos Risadinha, o terceiro e último episódio da sequência de especiais. E com ele temos o significado da nostalgia. Ao longo dos três episódios tanto o Doutor e Donna contemplam o passado do personagem título, e é apontada uma questão que vira e mexe sempre esteve presente com o protagonista: O Doutor nunca pôde descansar, claro ele algumas vezes passava anos em um planeta vivendo com alguém mas esses momentos já tinham um fim definido, ele nunca pode ter uma família em que pudesse viver em paz e que não acabasse em tragédia. Mesmo mudando de rosto, os traumas de suas vidas passadas parecem pesar mais a cada regeneração, mesmo que sutilmente.

    O problema explode finalmente quando a dupla se depara com um dos primeiros rivais do Doutor, o Toymaker. Vale dizer que Neil Patrick Harris está não apenas confortável mas tendo a diversão da sua vida interpretando o vilão, a natureza de trickster do vilão é vivida com uma energia caótica do personagem que está sentindo a liberdade de poder fazer o que quiser com o universo. 

    Durante o embate com o Toymaker temos então a razão do retorno de Tennant, o Doutor só quer poder viver em paz, buscando então nostalgia em um rosto e em uma companhia familiar que o marcou, por mais importante que o show deva continuar, a necessidade de pôr um fim também pesa. Aqui então que entram pequenas travessuras de roteiro já muito comuns no Sci-Fi de Doctor Who, a passada de manto de Tennant para Ncuti Gatwa é feita de maneira… singular. Criando um conceito novo chamado bigerenação, o Doutor se divide em duas pessoas, uma sendo Tennant e outra Gatwa. Assim o personagem poderia finalmente ter seu descanso, mas mantendo a chama de aventura pro futuro. 

    Doctor Who retornou da maneira mais melodramática, brega e sincera possível, Tennant de volta trouxe a dor e experiência do Doutor mas também sua necessidade de um final feliz, assim a nostalgia então se encontra com o futuro e aceita seu descanso merecido, abrindo portas para um novo Doutor, uma nova TARDIS e uma nova aventura. 

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