Em Duas Bruxas – A Herança Diabólica (Two Witches), uma jovem grávida está convencida que foi amaldiçoada por uma bruxa. Enquanto outra mulher, com impulsos violentos, espera herdar os poderes malignos de sua avó. Duas gerações de bruxas e as terríveis consequências para aqueles que cruzam seu caminho.
A espantosa volta dos slasher movies, de orçamentos de centavos e pretensões de milhões, está chamando a atenção até mesmo de um público mais seletivo no quesito terror. Mesmo que este espere algo artístico e reflexivo, tal como as obras de um Robert Egges, ou uma trama recheada de crítica sociais, como os clássicos contemporâneos de Jordan Peele, ou até mesmo histórias perturbadoras, como os polêmicos longas de Ari Aster, é possível encontrar entretenimento de qualidade, por exemplo, no longa-metragem de estreia do jovem cineasta Pierre Tsigaridis.
Duas Bruxas – A Herança Diabólica gera uma estranheza surpreendente devidos aos seus excessos, mudanças repentinas de ritmo e a sua intensidade, principalmente no almejo de querer se tornar uma franquia. Não estamos falando de uma obra prima do horror, muito longe disso, até pelo fato do filme sofrer com roteiro, atuações e recursos técnicos. Mas, há um notável chame numa produção, dividida em duas partes que podem até ser independentes, cujo segundo ato consegue superar um primeiro que poderia ter sido um pontapé inicial para um completo fracasso, além do epílogo que dá grandes aberturas para futuras sequências.

Desprovido de inventividade narrativa, além de contar com atuações sofríveis por parte da intérprete da então protagonista Sarah, a pouco convincente Belle Adams, – e do seu parceiro Simon, que é vivido pelo automático Ian Michaels -, a primeira parte de Duas Bruxas – A Herança Diabólica também peca por não saber o tipo de identidade que deve assumir, dividindo seu exaustivo desenvolvimento, repleto de clichês de filmes de terror, com um humor ácido totalmente sem vida e um horror gráfico, voltado para o gore. A segunda parte, por outro lado, conta com uma trama mais enolvente, além de uma ótima atuação de Rebekah Kennedy, que vive a assustadora protagonista Masha, neta da bruxa conhecida como “The Boogeywoman”, vivida por Marina Parodi. Todo o desenolvimento da história da personagem principal deste segundo ato tem ligações com o primeiro, mas aparenta ser uma produção compleamente diferente, assumindo um tom mais sério, com alguns espaços para humor negro e um toque de sadismo.
O cineasta Pierre Tsigaridis não poupa excessos, quer seja de violência gráfica, gritos, expressões faciais exageradas e imagens aterradoras. O baixo orçamento da produção proporciona algumas maquiagens e montagens mal produzidas que, ao longo da projeção, são simplesmente complementadas por caretas feitas pelas atrizes, que miram no grosteco e acertam no tosco, o que acaba funcionando e intensificando o valor excessivo proporcionado por Duas Bruxas. O exagero de jump scares, sombras e penumbras, além de uma trilha sonora que intensifica o suspense causado por algumas sequências, também são fundamentais para o complemento da obra.

Capaz de causar estranheza e repulsa em quem não está acostumado com esse estilo do gênero terror, Duas Bruxas – A Herança Diabólica é mais uma exemplo, tal como a franquia Terrifier, de que o slasher pode resistir firmemente à modernidade, contanto que ele amais abandone seus princípios: sangue, violência, personagens tolos e história com um leve ar de criatividade.