Ele é Demais é uma releitura da comédia clássica de 1999, Ela é Demais. As tramas são praticamente idênticas. Em Ela é Demais, Zack Siler (Freddie Prinze Jr. – Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado) leva um pé na bunda da namorada, Taylor (Jodi Lyn O’Keefe – Correndo Atrás) e aposta que consegue transformar qualquer aluna na garota mais popular da escola a ponto de se tornar a rainha do baile. A escolhida é a desajeitada Laney Boggs, interpretada pela atriz Rachael Leigh Cook que também está presente no remake, vivendo a mãe da garota mais popular da escola.
Em Ele é Demais, há uma troca de gênero e são incluídos elementos mais modernos para contextualizar a história nos dias atuais. Padgett Sawyr (Addison Rae – tiktoker) é uma influencer que é humilhada na frente de todos ao descobrir a traição do namorado, então aposta com a colega que é capaz de transformar o Cameron Kweller (Tanner Buchanan – Cobra Kai) em rei do baile.
Por se tratar de um remake, ou uma leitura de um filme, precisamos analisar o filme original.
O filme clássico é rodeado de polêmicas, há quem diga que o filme não envelheceu bem por causa de piadas machistas, gordofóbicas e fúteis. Mas apesar disso, o filme de 1999 era um crítica a essa casta da sociedade que se sente “superiora”. Apesar de ser uma comédia romântica adolescente, há uma série de diálogos críticos e o filme é responsável por boa parte dos clichês que vemos hoje. Uma das coisas que merece ser destacada em Ela é Demais é a edição, que brinca com as transições e os flashbacks.
O que vemos em Ele é Demais é algo muito mais padrão, mesmo sabendo que boa parte desse padrão foi criado justamente pelo clássico, fica a impressão de que o filme poderia ter feito muito mais.
A trama é essencialmente a mesma, mas o novo filme traz vários elementos que se aproximam mais dessa nova geração, abordando principalmente o fato das coisas serem diferentes fora das redes sociais. A premissa é simples e já vimos anteriormente como no filme Modo Avião, que é nacional mas não podemos nos esquecer de que também é original Netflix e ficou no “Top Mais Vistos” mundial.
Ele é Demais consegue passar a borracha em problemas do clássico, mas acaba caindo em outros erros. Amizades tóxicas são um desafio real na vida dos adolescentes e o longa dá bastante importância a essa questão. Porém ficou a impressão de rivalidade feminina que já estamos cansados de ver em filmes teen.
Há várias participações especiais no longa, duas delas sendo os atores do filme de 1999, a atriz Rachael Leigh Cook, que era a co-protagonista e agora é a mãe da protagonista, e o ator Matthew Lillard, o “boy lixo” que tirou a Taylor do Zach, e agora é o diretor da escola. E também a empresária / socialite Kourtney Kardashian que faz uma pontinha no filme.
Addison convence como Padgett, ela realmente transmite a doçura que a personagem dela exige. Já o Tanner não convence como o garoto revoltado, no primeiro ato suas atitudes são muito forçadas, quando o personagem vai se entregando à influencer, é que o Tanner se encaixa mais com o papel.
Interessante que o filme trouxe mais representatividade, com atores não-brancos em papeis de destaque, uma mãe solo e um romance lésbico. É muito gostoso ver esse tipo de representatividade nos filmes teen de hoje, afinal a nossa sociedade é muito diversa, e deve ser retratada como tal.
Há algumas referências ao filme clássico, como a dança do baile, que alavancou ainda mais o hit “Rockafeller Skank” do DJ Fatboy Slim, mas em Ele é Demais a trilha sonora não é nada cativante e acaba sendo só mais uma batalha de dança, assim como várias outras que já vimos no cinema. Senti falta de uma edição mais autêntica como o clássico. O remake se mantém muito nos padrões atuais de fotografia, planos, ângulos, etc.
No geral, Ele é Demais é um filme divertido, com uma premissa muito atual que entrega o que se propõe. Quem não viu Ela é Demais não vai ter problemas em absorver a história, e quem viu e gosta do filme clássico de 1999 vai sentir muita nostalgia.