Scott Derrickson, notório por seus trabalhos com filmes de terror como A Entidade, O Telefone Preto e O Exorcismo de Emily Rose, além do primeiro Doutor Estranho do MCU, retorna com uma produção original da AppleTV+, que mistura elementos de romance, ficção científica e mistério e elementos de terror.
Entre Montanhas segue a história de dois competentes e descartáveis assassinos profissionais que ficam encarregados de guardar um segredo escondido entre duas montanhas. O lado oeste guardado por Levi (Miles Teller – Top Gun: Maverick) pertence aos Estados Unidos, ao passo que compete a Drasa vigiar o lado leste, por ordens do Kremlin. Os dois devem viver, por um ano, nas torres de observação, proibidos de deixarem seus postos, onde devem permanecer sem comunicação externa, nem entre eles. Sua missão é, basicamente, impedir que nada saia do desfiladeiro que separa suas montanhas.
O isolamento imposto aos personagens lembra os momentos de confinamento vividos em 2020 por conta da COVID-19, ainda que o caso do filme seja muito mais drástico, com regras mais rígidas e nenhuma possibilidade de comunicação com o mundo exterior. Essa sensação angustiante de aprisionamento e o tédio esmagador sentido pelos protagonistas são bem explorados e ajudam a criar a atmosfera que nos prepara para os eventos que se seguem.
Passado um tempo de solidão forçada, os dois quebram as regras e decidem interagir um com o outro por meio de cartazes e lousas de recado. A dupla passa a estreitar suas relações e confiar, ao outro, segredos sobre si.
De início a interação genuína entre os dois e as formas criativas que encontram para interagir é simpática o suficiente para nos manter cativados e torcer por eles. Durante todo esse tempo, o mistério acaba existindo mais como um plano de fundo, sabemos que existe algo estranho ali, mas nossa atenção está mais voltada para os personagens do que para desvendar os segredos que os cercam. Se por um lado, o diretor constrói bem seus protagonistas – que ganham personalidade além do estereótipo do atirador de elite quieto e turrão –, por outro não consegue gerar um interesse nessa ameaça, que durante a primeira metade só existe na teoria.
Quando a comunicação a distância deixa de ser suficiente, Levi cruza o espaço entre os dois com a ajuda de uma corda para vista-la pessoalmente. Ao tentar voltar para seu posto, acaba caindo no desfiladeiro, forçando Drasa a tentar resgatá-lo. Lá o casal descobrirá segredos sombrios e enfrentará uma batalha pela sua sobrevivência.
A partir desse ponto, o filme, que de início tinha estabelecido sólidas bases e criado um autêntico interesse em seus personagens, fica gradualmente mais emaranhado e menos envolventes.

Se os mistérios em torno daquele lugar já não tinham as mesmas bases sólidas dos protagonistas e não inspiravam tanta curiosidade, quando chega no momento de revelação são tratados com ainda menos entusiasmo. Não há qualquer esforço do casal ou investigação, não há pistas e recompensas que permitam ao público participar da descoberta, as respostas chegam através de um atalho: eles encontram um vídeo que explica tudo de maneira extremamente didática e expositiva. E se a forma de revelar foi ruim, o conteúdo da revelação não é tão melhor e não consegue sair do clichê.
Por outro lado, toda composição visual do abismo e das criaturas que lá habitam são de encher os olhos, só é uma pena que esses conceitos acabam sendo tão mal aproveitados. Tão logo o conflito entre eles e os “moradores” locais começa, ele é abandonado e substituído por uma batalha contra outros membros do exército que vão em busca dos dois.
Se a primeira batalha tinha potencial por ser imageticamente cativante, a segunda não sai do genérico e tem um desfecho protocolar, que mira no esperançoso e acerta no covarde.
Apesar do começo instigante, que toma seu tempo para situar o público na história, o que se segue acaba perdendo a força até culminar em algo que não passa do esquecível. Longe de ser terrível, o filme também não consegue ser grandioso, apesar de tudo que se dispõe a abordar. É mais uma adição de streaming morna e segura, que não deve gerar sentimentos fortes, nem positivos, nem negativos, apenas medianos.