dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Entre Mulheres

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É interessante notar como esse filme funciona em uma espécie de reflexão sobre todos os comportamentos e costumes dessa comunidade em torno das figuras masculinas, no caso, todo esse machismo estrutural que culminou em ataques sexuais às mulheres daquela vila. Sendo assim, alcançando o limite do suportável por grande parte daquelas mulheres, surgindo então um debate entre qual escolha decidir dado aquela situação: não fazer nada, ficar e lutar ou partir.

Oito mulheres menonitas que sobem em um palheiro para realizar uma reunião secreta. Nos últimos dois anos, cada uma dessas mulheres em sua colônia têm sido repetidamente drogadas e estupradas durante a noite pelos homens que lá residem, que lhes dizem que demônios estão vindo para puni-las por seus pecados. Enquanto os homens estão fora, as mulheres têm 48 horas para deliberar entre si e decidir seu próprio destino.

O novo longa de Sarah Polley funciona nesse grande debate em uma pequena comunidade com costumes antigos, desde o modo de vida até os pensamentos mais tradicionais. É uma abordagem minimalista que funciona nesse argumento imposto por sua história, ou seja, ele apresenta o problema que causou essa reunião, ele desenvolve(em sua maioria) os diferentes pontos de vistas dessas mulheres, e ao seu final mostra a resolução escolhida. Não diferente, o filme se assemelha literalmente ao seu título original, Women Talking, o que a diretora busca realizar aqui é dar voz a essas mulheres oprimidas, violentadas e caladas. Isso fica claro na ausência absoluta desses homens da vila(com exceção de relances de flashbacks ou mostrando eles de uma maneira mais distante, quase desfocados), tirando a única presença masculina do filme, com voz e presença, o personagem August que funciona como assistente de toda essa incursão sobre o futuro dessas mulheres.

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Esse microcosmo criado pela diretora é bastante interessante porque é um exercício de debate, uma espécie de “Doze Homens e uma Sentença”, mas obviamente outro contexto e outros tipos de consequências, aqui o futuro a ser decidido é sobre elas mesmas, isso dá bastante peso por cada palavra e motivação imposta por cada mulher. Tanto que a linha temporal do filme permanece confusa até sua metade, imaginamos se tratar de um período mais antigo, mas o revelado é o período de 2010, depois de aparecer um carro do censo anunciando o início da contagem populacional naquela região.

É uma abordagem simples, como citado antes: minimalista, não busca de maneira nenhuma o espetáculo sobre a violência sofrida nas mulheres dessa comunidade. De maneira que ela traz um espaço simples e característico daquela vida mais simples: um celeiro. E o transforma no palco da decisão mais importante da vida daquelas pessoas, então a ideia principal do filme são elas conversando, debatendo e até mesmo brigando, tudo em prol daquelas três escolhas que elas possuem. Em conta do debate, são reações bem apresentadas aqui, temos uma mistura entre mulheres mais velhas, jovens(crianças e adolescentes)e as figuras mais centrais do filme: as mulheres adultas. Então vamos ter a personagem mais agressiva que busca a decisão mais voltada ao ódio e revolta, temos outra personagem mais “sensata” que analisa as diferentes escolhas e reflete sobre cada consequência, e também figuras mais velhas, funcionando de maneira sábia sobre os temas discutidos aqui, juntando todo aquela carga de anos seguindo aquele método de vida, uma mistura perfeita de medo com revolta.

Como citado antes, o desenvolvimento das discussões funcionam em grande parte do longa, com exceção da personagem interpretada por Frances McDormand que é justamente esse contraponto extremo da revolta das mulheres da vila. É uma mulher mais velha, com os costumes e crenças antigas levados a sérios, ela é apresentada logo no início do longa como contrária a toda aquela situação de escolha própria das mulheres, acreditando que elas não deveriam fazer nada e perdoar os atos criminosos daqueles homens. A presença da atriz em tela é sentida, mas infelizmente o filme opta por jogar a personagem de lado, onde ela poderia ter espaço para ser extremo em meio ao debate, ter uma discussão talvez até mais ácida com os costumes e tradições antigas, e também acaba se tornando um desperdício de talento de uma grande atriz.

Entre Mulheres apresenta um tema extremamente importante e se utiliza muito bem de um espaço tão específico e pequeno para ecoar um problema tão comum e atemporal da história da humanidade. É um filme que sabe lidar com o pouco e a abordagem minimalista acrescenta mais ainda para o conteúdo e discussão apresentados aqui. O elenco sabe criar e causar o peso das escolhas e consequências, a escolha pontual de certas atrizes engrandecem a obra. Por todo um bem, a diretora Sarah Polley deixa muito claro desde o minuto inicial o que ela quer desenvolver aqui, sem glamourizar ou procurar um espetáculo, apenas a pura força de dar voz para aquelas mulheres.

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