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    Crítica | Eternos

    Marvel Studios/ Divulgação
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    Nos últimos anos, o MCU (Marvel Cinematic Universe) mostrou ser quase uma entidade. Seu início em 2008, com Homem de Ferro, estrelado por Robert Downey Jr., iniciou o que viria a estar além do bem e do mal: os super-heróis da Marvel. Inseridos também na cultura pop, o sucesso midiático dos filmes que os apresentavam proporcionou o desenvolvimento de um mundo no qual era possível prever seu destino a partir dos quadrinhos que o criaram, mas não a maneira com que este seria contado. Logo, a marca da companhia, além de ter seus rostos principais estampados em camisetas e canecas, formulou um novo protótipo de produção que alavancou seu universo e os nomes atrelados a ele, como o Hulk de Mark Ruffalo e a Viúva Negra de Scarlett Johansson. Embora estas e outras faces mais mainstream ainda sejam os carros-chefes da produtora, uma recente jornada em prol da ascensão dos heróis à sombra dos famosos – mas tão importante quanto eles, diga-se de passagem – está sendo construída. Dentro desta leva, está Eternos (2021), de Chloé Zhao, e sua tentativa de trazer à luz novos ídolos e uma nova Marvel.    

    Muito antes dos Vingadores, há 7 mil anos, em direção à Terra, os Eternos foram enviados. Fruto de experimentos dos primeiros seres que já habitaram o cosmos, os Celestiais, o grupo foi moldado para proteger o planeta dos humanos de outro ensaio dessa mesma raça celestial, porém que não foi bem sucedido: os Deviantes. Falsamente erradicados, tais criaturas voltam a se reunir em solo terrestre, forçando os Eternos a se aliarem novamente. Entretanto, cada integrante seguiu seu disfarce como indivíduos “comuns”, sem resquícios de seus poderes e do passado em que auxiliaram na formação do globo e de sua sociedade. O recrutamento de um por um, então, fez-se necessário para que, juntos, pudessem suscitar uma estratégia eficaz o suficiente para a salvação da humanidade.

    Apesar dessa difícil missão, o que vemos, nos momentos iniciais, são combates com quem pouco conhecemos. Os Deviantes, embora tenham a carapuça de monstros obviamente malignos, são estranhos diante de longas lutas que se assemelham ao clichê heróis versus qualquer perversidade em forma grotesca. No entanto, ao longo da obra, não só os Deviantes vão gerando uma dimensão concisa, como os próprios Eternos viram de fato protagonistas. Com um círculo composto por 10 “pessoas” , é de se esperar que algumas permaneçam fora do holofote. Personagens secundários dentro do ramo central do filme, ainda que não tenham o devido amadurecimento, são postos à prova em eventos conduzidos para que o público não duvide de sua relevância. Quanto aos demais, tais quais Sersi (Gemma Chan) e Ikaris (Richard Madden), suas evoluções guiam a sensação de que seus destaques poderiam ter sido melhor distribuídos.

    Primeiramente agraciada com o “chamado” para a volta dos Eternos, Sersi mescla a vontade de ser uma humana e a obrigação interior de regressar à sua vida nativa de uma ser não-humana. Contudo, seu romance com Ikaris não leva a um local de compadecimento para com os dois, e sim para um olhar de artificialidade. Independentemente disso, o resto dos Eternos, que, por vezes, dão a entender que são uma equipe de desconhecidos e não parceiros de longa data, são fortes para dar-lhes especificidades próprias. Kingo (Kumail Nanjiani), é um ex-Eterno que se transformou em astro de Bollywood e manifesta-se como o principal motivo de risadas genuínas durante a obra; Thena (Angelina Jolie) possui uma questão mal resolvida sobre sua condição, mas segue sendo uma presença forte; Gilgamesh (Ma Dong-seok) usa superforça com quem merece e continua sendo um bom ser; Duende (Lia McHugh) peleja com sua necessidade de crescer à medida que perdura no corpo de uma criança; Druig (Barry Keoghan) e Makkari (Lauren Ridloff) assumem o aspecto de um provável par romântico, que ambos deixam de lado para lutarem como figuras autônomas – e competentes. Já Ajak (Salma Hayek), que rege estes elementos por ser se uma ponte de comunicação entre os mesmos e Arishem, líder do Celestiais, não expõe nada adicional a seu cargo.

    Recorrendo a muitos flashbacks para contar a história da existência dos Eternos, incluindo períodos como o mesopotâmico e o atual, o longa-metragem transita pacientemente por uma narrativa que parece rasa. E, se levado em consideração a rapidez com que os participantes abandonam suas realidades tranquilas para regressarem a um turbilhão cósmico em que está em jogo a conservação da Terra, é mesmo. Todavia, tal motivo toma corpo e é entendível que o poder dos pertencentes desta raça é tão significativo, e, para alguns deles, tratado como um fardo. Crises de consciência no se refere ao fato de não poderem interferir no rumo dos humanos conforme seu progresso – ou regresso -, dado a visualização dos Eternos frente a destruição e a guerras, por exemplo, faz orgânico o sentimento de impotência dos super-heróis, o que evolui para outras ramificações. No enredo, há mais por trás do que é exposto na tela.

    Inspirado nos quadrinhos escritos por Jack Kirby nos anos 70, a diretora vencedora do Oscar por Nomadland (2020), Chloé Zhao, teve a incumbência de transformar o anônimo Eternos em um filme da Marvel. Geralmente, ser do estúdio dispõe de certos conceitos: visual vibrante, cenas de ação recorrente, ritmo rápido, etc. No trabalho de Chloé, isso não acontece com frequência. A cineasta, que escreveu o roteiro junto com Patrick Burleigh e Ryan Firpo, deu predileção a uma trama contemplativa, seja nos belos cenários, desérticos ou urbanos (como Londres), ou na maneira lenta de contar o que aconteceu com o planeta Terra e onde os super-heróis entram nisso. O visual, de certo, é um dos mais ricos das obras do estúdio. As armaduras metálicas de Sersi, Ikaris e companhia, combinam até com a delicadeza das areias esvoaçantes, que aliado a trilha sonora e aos planos abertos (com CGI não tão bons, mas bem utilizados), completam somente alguns dos pontos que fazem do filme grandioso. Saindo do campo de mais um exemplar da Marvel, a obra, artisticamente, é outro nível.

    O Eternos de Chloé Zhao, considerada uma promessa no cinema, será uma dicotomia. A Marvel da cineasta pode ser observada com maior semelhança dos outros filmes apenas no final do segundo ato para lá, em que a característica ação frenética fará com que os fãs do estúdio revivam seu legado. Caso contrário, o longa-metragem monumental é arrastado no quesito narrativo, que vive essencialmente a base de suas belas imagens e de uma atmosfera preparativa para o último ato e para o entendimento daquele universo singular, mas integrado, porém não é tragável para todos os gostos. Posto o esforço de Chloé e seu time de transformar uma obra comercial em uma obra de arte, é notável que a diretora tenha conseguido alcançar pelo menos um diferente resultado do que o MCU estava acostumado a ver. Será Eternos um blockbuster para poucos ou um blockbuster que inicializará uma tendência?

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